Futura ciclovia da Marginal Pinheiros
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Na manhã de sexta-feira, dia 25, o +Vá de Bike!+ percorreu o caminho da futura ciclovia da Marginal Pinheiros, junto com funcionários da CPTM, Soninha Francine, CicloBR, Transporte Ativo e outros cicloativistas. Fomos convidados para conhecer o percurso e fazer sugestões.
Segundo informações prestadas pela CPTM no local, as obras começariam nessa segunda-feira, dia 28, com previsão de entrega de até 120 dias.
Percurso
Na fase inicial, a ciclovia irá da estação Vila Olímpia da CPTM até perto da represa Billings, num trajeto de cerca de 14km. A idéia é ampliá-la até o Parque Vila Lobos, num total de 22km, mas para isso precisa ser estudada a criação de um acesso ao parque.
Pelo que o CicloBR apurou no local, também precisa ser feita uma recuperação do asfalto nesse segundo trecho.
Veja o mapa que o +Vá de Bike!+ preparou, com o percurso total da ciclovia, clicando na imagem ao lado.
A pista
Já existe uma pista no local, utilizada hoje pela EMAE. Essa via é praticamente uma ciclovia pronta, como já mostrou o CicloBR no ano passado, faltando apenas os acessos a ela. Hoje ela é utilizada por veículos de manutenção da EMAE e por alguns funcionários da empresa que a usam como atalho para fugir do trânsito da Marginal.
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Segundo a CPTM, estes não poderão mais utilizar a pista, enquanto os veículos de manutenção, que precisam realmente utilizá-la, continuarão fazendo isso bem sinalizados e em velocidade compatível com a presença de ciclistas. Isso não deve ser um problema, já que a pista tem quase quatro metros de largura e pode muito bem ser compartilhada com os poucos veículos que realmente precisam passar por ali.
Não vejo necessidade de pintar a pista de vermelho, já que ela não está inserida em meio ao tráfego comum das ruas e não precisa ser destacada em relação a outras faixas. Seria interessante apenas pintar o símbolo da bicicleta no chão e, futuramente, sinalizar as saídas.
Em todo esse primeiro trecho, da Estação Vila Olímpia até perto da Billings, o asfalto está ótimo. No caminho inteiro vi apenas UM buraco e, mesmo assim, não era lá grande coisa.
Gradil
A pista segue praticamente todo o caminho acompanhando os trilhos do trem, a uns bons metros de distância. Mas, por segurança, será colocada uma grade em toda essa extensão, para evitar que alguém resolva arriscar a vida se aproximando dos trilhos.
Acessos
A maior dificuldade são os acessos: de início haverá apenas dois, um em cada ponta. Outros estão sendo estudados, pois envolvem alterações nas pontes. Não é possível utilizar os mesmos acessos das estações porque eles não levam além dos trilhos e porque eles ficam além das catracas – e a idéia é que o acesso à ciclovia seja gratuito, claro.
Adaptar as pontes pelo caminho para permitir o acesso dos ciclistas é realmente a melhor solução, até porque serve como forma de integrá-los ao tráfego, com sinalização e travessias adequadas, ao sair da ciclovia e voltar para as vias de uso comum. E o acesso fica muito mais simples e prático se feito diretamente pela ponte em vez de obrigar o ciclista a entrar pelas estações, até porque elas ficam apenas de um lado do rio e nem sempre junto a pontes.
Vila Olímpia
O acesso será feito por uma passarela, que hoje é de uso restrito, ao lado da estação. Essa passarela é composta de vários lances de escada, mas será adaptada para ter rampas. A adaptação está em estudo.
Autódromo
Na outra ponta, que fica perto da estação Autódromo (porém do lado “de cá” do rio), a proposta é fazer uma praça de serviços ao ciclista, com banheiros, posto de consertos e outros serviços que estão sendo estudados. Aliás, seria bom colocar alguns banheiros ao longo do trajeto…
Nesse local é possivel fazer um acesso relativamente simples à R. Miguel Yunes, sem precisar de passarela ou adaptações.
Cenário
O que mais me impressionou foi o cenário que encontrei ali. Eu esperava ver uma paisagem desolada, apenas com lixo e mau cheiro, mas me surpreendi: apesar de poluído e sujo, o rio é muito bonito. Em volta, muitas árvores, flores, pássaros e capivaras. Dali de baixo temos uma visão diferente da cidade.
Saindo da estação Vila Olímpia em direção à Autódromo, entre a ciclovia e os trilhos do trem há um canteiro largo com árvores e plantas de vários tipos. Algumas pequenas árvores exibiam pequenos frutos alaranjados em cachos, misturados a algumas flores roxas eventuais. Outras tinham todas as folhas em tons de vermelho. Outras ainda estavam totalmente floridas.
É possível ver e ouvir muitos pássaros pelo caminho. Embora o congestionamento da Marginal entoe ao fundo o costumeiro “mi-mi-mi!” dos motociclistas, o som dos pássaros se fez ouvir em várias ocasiões. Chegamos a ver um pica-pau com a cabeça alaranjada, garças, alguns pássaros com um rabo bem longo e fino (não faço idéia de qual a espécie, nunca tinha visto) e outros mais comuns à fauna urbana, como pardais e um pássaro marrom de peito alaranjado que eu também não sei qual é (desculpem, não entendo muito de aves, só as admiro).
O rio, largo e de águas tranquilas, com suas margens verdes e as garças voando por cima, dá uma visão bonita, mas estragada eventualmente por alguns montes de plástico acumulados na margem oposta. Conforme avançamos em direção à represa, era possível ver cada vez mais lixo boiando no rio e o paisagismo foi deixado de lado. Espero que, agora que a margem começará a ser frequentada, estendam o trabalho de paisagismo até o trecho “menos nobre”.
Lixo
Nas partes onde há um maior acúmulo de lixo no rio e as balsas trabalham fazendo a limpeza, é possível ver muito plástico boiando. Há algumas pilhas de lixo e entulho na margem oposta, que foram retirados do rio. A maior parte do lixo é composta de plástico: garrafas PET, sacos plásticos, embalagem de amaciante, de margarina, de biscoito. Até aquele papelzinho amassado que muita gente joga pela janela do carro ou “deixa cair” disfarçadamente ao andar na rua periga estar ali, boiando ao lado de inúmeras bitucas de cigarro.
Percebe-se, pelas estações de flotação e balsas, que há um esforço em tentar limpar o rio, mas não adianta limpar se o lixo continua chegando. Além de lixo “visível”, há esgoto misturado à água. E o esgoto que vai parar no rio é todo de construções irregulares e favelas sem saneamento básico, que descarregam direto nos rios, certo? Errado. Há muitos edifícios de classe média e classe alta, não muito antigos (alguns até novos) que descarregam o esgoto na galeria de águas pluviais, aquela por onde escorre a enxurrada em dias de chuva depois que entra numa boca de lobo. Aquela galeria desemboca em um rio, levando com ela tudo que for jogado ali, seja o lixo que estava na rua ou o esgoto daquele prédio bonitão que você nem desconfia.
E o cheiro?
No início do percurso, dava para sentir o cheiro do rio, mas de forma suportável. Duas estações depois, o cheiro havia sumido, voltando só na altura das estações de flotação, lá na frente. Dizem que com o aumento da temperatura da água em dias de calor, as bactérias realizam mais seu trabalho de decomposição do esgoto que está misturado no rio e o cheiro fica mais forte.
Potencial turístico
Se for possível limpar o rio a ponto de eliminar o lixo “visível” e o esgoto invisível (mas perceptível), as margens do rio seriam ótimas para lazer e, por que não, passeios turísticos. Seria possível inclusive estimular passeios turísticos de bicicleta, alugando as magrelas para os visitantes de outras cidades e países conhecerem a cidade por outro ângulo.
Em alguns pontos, poderia haver restaurantes ou cafés, atraindo frequentadores para as margens durante os finais de semana e talvez até durante a semana. As margens já estão muito bonitas e podem ficar ainda mais se o rio for despoluído.
Avaliação
A ciclovia pode ajudar centenas (talvez milhares) de ciclistas que trafegam pela Marginal Pinheiros todos os dias. A área de várzea da Marginal, sem subidas, aliada à falta de alternativas viáveis ao ciclista em quase todo o percurso, já torna a Marginal Pinheiros a escolha de muitos ciclistas, ao menos em parte do trajeto. Na ciclovia, eles estarão protegidos do tráfego agressivo das pistas que a rodeiam.
Mas ainda é necessário criar vários acessos, para atender também a quem precisa entrar ou sair da ciclovia antes dos pontos incial e final. Isso está nos planos, mas não pode demorar.
Se for criado um acesso da Ciclofaixa de Lazer (que liga os parque do Ibirapuera, do Povo e das Bicicletas aos domingos) até a entrada dessa ciclovia, ela se tornará uma ótima opção para quem quiser fazer um passeio diferente de bicicleta no final de semana.
A experiência de pedalar ali e se sentir perto do rio que a cidade esqueceu vale a pena.
Vídeo
Assista a matéria em vídeo produzida pelo +Vá de Bike!+, com imagens gravadas na futura ciclovia:
Sugestões
Veja aqui as sugestões do +Vá de Bike!+ para que a ciclovia da Marginal Pinheiros seja realmente útil e importante para a mobilidade por bicicleta na cidade de São Paulo.
Leia mais no Último Segundo.
Fotos: Willian Cruz / +Vá de Bike!+
Boa Tarde,
Gostaria de saber como está o projeto?
Obrigada
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É muito bom ñ só para trabalhadores de baixa renda como vi um comentario, mas também para pessoas que queiram cuidar de sua cidade pq a poluição dor ar est critica,e uma coisa q énecessaria é policiamento pq realmente pessoas desocupadas podem ter aquele local como fonte de venda de drogas e muitas outras coisas.
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O pássaro que vc se refere é o sabia-laranjeira.
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Moro na Zona Sul Grajaú e sempre comentei que este é um dos locais ideais para a construção de uma ciclovia, porém gostaria que houve-se policia ciclística no local ou policia de moto circulando, uma vez que infelizmente tem alguns vagabundos que poderão invadir e roubar nós ciclistas nestes locais. A segurança deverá ser ativa, senão o que adianta investir tanto e esquecer do lado mais sensível do ser humano que é a vida e por outro lado teremos policiais com excelente forma física uma vez que também serão ciclistas, mas tem que gerar empregos para a polícia desde as 06 horas da manhã até as 21 horas, podendo escalonar de 4 x 4 horas, taí mais um exemplo para geração de emprego. Vamos transformar nossa capital em uma excelente cidade pra morar.
Acho que não deve abrir este local para motociclístas e nem motoboys senão não vai dar certo a ciclovia, derrepente poderão construir uma pista a mais somente para eles.
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É realmente uma notícia fantástica! Espero que saia logo do papel e seja implementada, mas com vias de acesso em todas as pontes e estações de trem, pelo menos. A construção de passarelas em outros trechos seria inviável ou muito cara? Por fim, tão ou ainda mais importante do que chegar ao Parque Vila Lobos é o acesso à Cidade Universitária. Há muitos funcionários, alunos e professores que tem a bicicleta como principal meio de transporte. E a travessia da alça que liga a ponte da cidade universitária ao campus é horrível de se atravessar.
Forte abr
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Pedro Gadelha, concordo contigo! Só acrescento que a prioridade deve ser mais do que apenas ciclovias e ciclofaixas: deve ser a aceitação da bicicleta como parte do tráfego.
A gente precisa começar a se movimentar pra acabar com essa idéia generalizada de que a solução pra bicicleta é só ciclovia e ciclofaixa, que é coisa bonita, é obra, sai na TV e conta ponto na eleição. Senão acontece o que já tá acontecendo, tem ciclista comentando sobre motorista que manda sair da rua e grita que “é só de domingo!”, mesmo onde não é trajeto da ciclofaixa de final de semana. Eu mesmo já escutei “vai pra ciclovia!” em lugar que nem ciclovia tinha.
Ciclovia é bom pra proteger o ciclista do tráfego rápido, mas tem um efeito colateral bem perigoso, a disseminação da noção errônea de que que lugar de bicicleta é só em ciclovia, resultando em motoristas que ameaçam a vida de ciclistas achando ainda que têm razão. Isso só se combate com campanhas de esclarecimento e sinalização em vias principais, como a Paulista, indicando a presença de bicicletas em meio ao tráfego. Disso ninguém fala.
Vale a pena ler a história das ciclovias, que conta como elas passaram de vias adaptadas para tráfego de bicicletas para instrumento de segregação e “proteção” ao automóvel na época da Alemanha nazista, e sobre como isso resultou no declínio da bicicleta como meio de transporte.
Marcelo Alves, o melhor mesmo seria fazer os acessos a partir das pontes, fica até mais rápido e fácil para acessar a pista. O ideal seria todas as pontes terem acessos.
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Sonho com o dia em que poderei deixar o carro em casa e usar a ciclovia. Moro na Chácara Sto Antonio e Trabalho em Pinheiros – 10kms. A única opinião que tenho é que deveriam sim pensar em usar as estações da CPTM como acesso, uma vez que todas já tem passarela sobre a marginal e estão presentes por toda a ciclovia. Há que se pensar em uma forma de alterar as catracas para garantir o acesso livre. Ou já fazer a coisa integrada – o ciclista paga a tarifa do trem e faz a opção de usar a ciclovia ou tomar um vagão reservado para as bikes. Ainda a tarifa serviria para pagar pelo uso seguro de um bicicletário e chuveiro nas estações. Claro que esta proposta não agrada a todos, que preferem o serviço de graça (é lógico), porém ao colocar um valor temos um interesse econômico que pode ser interessante para a CPTM e prefeitura – quem sabe assim sai mais rápido.
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Bom dia Willian,
para mim está claro que a grande prioridade no movimento pró-bicicleta é o reconhecimento e a criação de estruturas para a bike como transporte – o lazer e o esporte viriam como decorrência disso, o contrário é que é o mais difícil. Por isso acho meio temeroso atribuir funções de treino à ciclovia do Rio Pinheiros, o que poderia pôr em risco ciclistas em velocidade lenta, e crianças aprendendo a usufruir de sua cidadania. Por isso, espero que toda e qualquer oportunidade de legitimar a bike como meio de transporte sério e cotidiano em São Paulo deve ser explorada ao máximo. A iluminação e a segurança têm que estar incluídas nesse projeto, que poderia vir a ser fundamental como modelo para a inclusão de vez da bicicleta no cotidiano paulistano.
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Os acessos e passarelas são necessidade antiga para a Marginal. Se forem pensados para ciclistas e pedestres e servirem as duas margens do rio, seriam de imensa utilidade. Por exemplo, quem mora no Real Parque poderia perfeitamente caminhar até a Berrini e não precisaria do carro. Isso se houvesse maneira de cruzar o rio naquele ponto. Isto vale para caminhada ou bicicleta. O investimento de se construir passarelas e acessos é tão alto assim?
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Eu realmente não entendo,
Pedalo a uns 25 anos, desde que ganhei minha primeira bicicleta, e nesses anos todos, não me lembro de tantas iniciativas, na cidade a favor da bicicleta.
Seja o Metrô recebendo o ciclista, uma faixa reservada mesmo que aos domingos, para que se possa pedalar tranquilo, enfim, estamos conseguindo a atenção do governo, a simpatia do motorista e o apoio da população, sem dúvida alguma, sei que falta muito, estamos engatinhando ainda, mas estamos conseguindo uma atenção enorme, seja por interesse político, modismo ou sei lá o que.
Ao invés de comemorarmos, e unir forças pra mais conquistas, alguns ficam vendo os pontos negativos, e criando problemas. As coisas não vão acontecer da noite para o dia, ainda falta muito pra termos uma cidade mais justa. Acredito que nos últimos anos, conquistamos mais do que em todos os outros anos, desde que aprendi a andar de bicicleta. Hoje percebo que há certa admiração no ciclista, não é mais só o cara que não tem condições de andar de carro, mas é também uma opção.
Pedalar hoje é também um ato político e de comprometimento com a cidade.
Estamos caminhando para mais uma conquista, que por menor que possa parecer, é um passo importante, um caminho sem volta, e que vai ajudar a mudar aos poucos nossa cidade.
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E a segurança como fica?
Seria um local para treinar Speed aos domingos quando a USP esta fechada?
temos que ter o cuidado de não permitir o acesso também às motos!
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William, o pássaro que você descreve, marrom com peito laranja, deve ser um charmoso sabiá.
E em relação à ciclovia segregar, tenho de concordar com o André: há lugares e lugares. Evidentemente que não tem cabimento pensar em esperar que toda a cidade receba ciclovias
para só então começar a pedalar. Mas em vias rápidas e com muito carro, se você não tiver
espaço separado para bicicleta, as chances de acidente são imensas. É assim em Paris, onde
o intelentíssimo Velib vem fazendo um bruta sucesso e em outras regiões da França (inclusive
em estradas). Não temos que importar modelos exatamente como eles são. Mas evidentemente
que vale, e muito, aprender com quem faz bem…
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Olá.
Eu sou simpatizante do uso da bicicleta como forma de lazer e transporte, além de levantar a bandeira a favor de uma São Paulo menos poluída e mais humana. Acho que a iniciativa de transformar a Marginal Pinheiros numa ciclovia é uma forma de concretizar o que muitos moradores desejam: uma qualidade de vida melhor.
Espero poder circular em breve nessa ciclovia! 🙂
Abraço.
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