Preconceito contra ciclistas

Pouco se fala no assunto, mas pessoas em bicicletas sofrem forte preconceito no Brasil. Perigoso e nocivo, ele impede que mais pessoas adotem a bicicleta como meio de transporte.

Quem usa a bicicleta em seus deslocamentos tem sempre alguma história de preconceito, agressão gratuita no trânsito ou recusa de acesso. Arte: Willian Cruz/VdB
Quem usa a bicicleta em seus deslocamentos tem sempre alguma história de preconceito, agressão gratuita no trânsito ou recusa de acesso. Arte: Willian Cruz/VdB
O unidade Jaguaré do Extra, em São Paulo, não queria atender essa gente que anda de bicicleta. Segundo o leitor Adriano, a situação foi resolvida após troca da empresa que administrava o estacionamento. Foto: Fabio Fau

Pouco se fala no assunto, mas pessoas em bicicletas sofrem um forte preconceito no Brasil, sobretudo nas grandes cidades do país.

Para dar um primeiro exemplo, alguns anos atrás o Vá de Bike denunciou a maneira como eram recebidos os ciclistas em um shopping center de São Paulo, dando oportunidade para a empresa se defender e mudar seu atendimento. Um mês depois, nossa repórter Aline Cavalcante voltou ao local para averiguar, mas a situação não havia melhorado muito.

Para ser justo, visitei o local seis meses depois da publicação do primeiro texto, sem que houvesse nenhum problema e nem mesmo cara feia dos seguranças. Talvez a recepção neutra tenha sido porque entrei pedalando bem vestido e com roupas formais (camisa e calça social), mas espero sinceramente que “preconceito às avessas” não seja o motivo para me receberem em bicicleta do mesmo modo que recebem os demais clientes em carros – e isso é tudo que pedimos.

 

Apartheid veicular

Não à toa, quando escrevi sobre o shopping estabeleci uma comparação indireta com a segregação racial que ocorria algumas décadas atrás, nos Estados Unidos e em outros países, através de uma das imagens que ilustrava o texto. De forma similar ao que ocorria naquele contexto, as pessoas que se deslocam em bicicleta são tratadas com forte discriminação nos dias de hoje.

Como cidadãos de segunda classe, ciclistas são impedidos de adentrar garagens de estabelecimentos, de trafegar em rodovias e pontes, de utilizar drive thrus de lanchonetes, de guardar a bicicleta em estacionamentos e, indiretamente, até de entrar em estabelecimentos comerciais (ao serem impedidos, intencionalmente ou não, de estacionar onde automóveis são permitidos).

Há um ótimo artigo do porto-alegrense Enrico Canali que me fez refletir sobre outro ponto desse preconceito: com grande frequência, ciclistas são obrigados a ceder seu lugar de direito na via para que os automóveis passem. Enrico estabelece um paralelo entre a história de Rosa Parks (veja abaixo) e a perseguição institucional ao movimento Massa Crítica. Mas o preconceito vai muito além.

Muitos motoristas nos obrigam, com o tamanho e a periculosidade de seus carros e som insistente de suas buzinas, a literalmente sair da rua para que eles passem. Quantas vezes motoristas raivosos já não quiseram que eu evaporasse da faixa da direita da avenida, imediatamente, para que eles pudessem passar exatamente ali, mesmo quando podiam mudar de faixa para ultrapassar em segurança e sem stress? É uma situação que tem mais semelhanças com o que ocorreu com Rosa do que pode parecer. Acompanhe a seguir.

 

A obrigação de ceder lugar aos brancos…

Rosa Parks sendo presa por não ceder seu lugar a um branco. Imagem: RosaParksFacts.com

Rosa Parks, uma costureira negra de 42 anos, andava de ônibus na cidade de Montgomery, no Alabama. O ano era 1955, época em que o preconceito era vergonhosamente aberto e institucionalizado naquela região dos Estados Unidos. Havia locais que negros não podiam frequentar, banheiros que não podiam usar, serviços que eram prestados exclusivamente a brancos, locais com espaço demarcado para negros. E ambientes onde a preferência era sempre dos brancos presentes, como por exemplo o interior dos ônibus.

Negros deveriam entrar pela porta de trás e sentar-se no fundo. Se todos os assentos do ônibus ficassem ocupados, os negros deveriam se levantar para dar lugar aos brancos que embarcavam pela porta da frente.

Os negros eram obrigados, com constrangimentos ou à força, a abrir mão de seus direitos em favorecimento dos brancos.

Com os assentos todos ocupados e alguns brancos já em pé, o motorista levantou-se para fazer com que os negros cedessem lugar. Rosa Parks era uma das pessoas sentadas. Um rapaz ao seu lado se levantou, mas tudo que ela fez foi passar para o assento junto à janela. O motorista ameaçou chamar a polícia, mas Rosa continuou irredutível, dizendo que não sentia que devesse fazer aquilo. “Eu sabia que alguém tinha que dar o primeiro passo e eu estava determinada a não sair dali. A maneira como éramos tratados não era certa e eu estava cansada disso”, contou Rosa mais tarde, em sua autobiografia.

Apesar da lei vigente dizer que o condutor do veículo poderia estipular assentos de acordo com as características étnicas, ela não obrigava negros a cederem lugar aos brancos. Ainda assim, Rosa Parks foi presa.

… e a obrigação de ceder lugar aos carros

Código de Trânsito Brasileiro
Art. 29, § 2º: Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.
Art. 58: Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

Embora o Código Brasileiro de Trânsito garanta o direito de circulação das bicicletas nas ruas e estradas e a prioridade das bicicletas em relação aos automóveis, muitos motoristas ainda acreditam que a bicicleta deve sempre ceder passagem ao automóvel. Deve sair de sua frente, desaparecer, evaporar dali instantaneamente, liberando o espaço que lhe é de direito para o carro passar. Como o negro que deveria se levantar para que o branco se sentasse.

O resultado disso são as chamadas “finas educativas”, quando motoristas passam propositalmente perto de ciclistas que não cedem seu lugar na via, colocando em risco sua vida a fim de ensiná-los a se comportar direito perto de um carro. Finas educativas foram responsáveis pelas mortes de Márcia Prado, Antônio Bertolucci e muitos outros anônimos.

Há também aqueles que buzinam insistentemente atrás do ciclista, ameaçando passar com o carro em cima caso você não abdique do seu direito de circulação e de sua prioridade no uso da via para alguém que, muitas vezes, nem com pressa está. Saia da frente, um motorista quer passar.

E há, lamentavelmente, aqueles que abrem caminho à força, como o atropelador de ciclistas Ricardo Neis, que não se conformou quando percebeu que a multidão de ciclistas à sua frente não cederia seu lugar de direito para que ele passasse com seu carro. Neis abriu caminho à força em meio a centenas de pessoas, atirando gente para todos os lados e ferindo 17 dos malditos ciclistas que se recusaram a ceder seu lugar.

Os ciclistas são obrigados, com constrangimentos ou à força, a abrir mão de seus direitos em favorecimento de quem está em um carro.

A lei garante não só o direito dos ciclistas como também punições para motoristas que colocarem ciclistas em risco. Em São Paulo, motoristas passaram a ser multados por desrespeito ao ciclista em 2012, mas a fiscalização ainda é sutil em relação à quantidade de agressões diárias e, em outras cidades, raramente acontece. E essa sensação de impunidade contribui para que as ameaças à vida continuem.

Você não é bem vindo

Lei Municipal 14.266 (São Paulo)
Art. 8º: Os terminais e estações de transferência do SITP, os edifícios públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande afluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas, bicicletários e paraciclos como parte da infra-estrutura de apoio a esse modal de transporte.

Na cidade de São Paulo, diversos tipos de locais públicos e com grande afluxo de pessoas são obrigados a disponibilizar vagas para bicicletas. A Lei Municipal 14.266 inclui explicitamente edifícios públicos, indústrias, condomínios e centros de compras, como supermercados e shopping centers. Essa lei está em vigor na cidade de São Paulo desde fevereiro de 2007, mas é ignorada por estabelecimentos que não reconhecem o ciclista como consumidor e cidadão, preferindo não recebê-los. No total, são três as leis que obrigam bicicletários na cidade.

cars only beyond this point

Um exemplo claro de local onde os ciclistas eram indesejados era o supermercado Extra Jaguaré, em São Paulo, que não permitia bicicletas em seu estacionamento até alguns anos atrás. Uma placa tentava justificar a proibição, alegando não haver local apropriado para elas, mostrando que os responsáveis por essa unidade não tinham o menor pudor em ignorar a lei abertamente e por escrito. Depois que o caso se tornou público, houve troca da empresa que administrava o estacionamento e um espaço foi providenciado.

O Mooca Plaza Shopping, também na capital paulista, é outro exemplo: quando inaugurado, também não dispunha de local para estacionar bicicletas. Proliferavam os relatos de pessoas que entraram no estacionamento em bicicletas e foram tocados para fora pelos seguranças como se fossem baderneiros. Questionada pelo Vá de Bike através do Facebook, a equipe do shopping respondeu que estavam “correndo para providenciar o quanto antes”. Depois de dois meses, uma estrutura foi providenciada, mas os ciclistas já tinham entendido não serem bem vindos naquele local.

E nem sempre um local adequado para estacionar a bicicleta é garantia de que o ciclista será bem tratado. No Conjunto Nacional, em plena Avenida Paulista, local que conta com bicicletário há anos, ciclistas chegaram a ser maltratados ou ignorados pelos funcionários diversas vezes. O editor deste site chegou a ser chamado de “palhaço” e intimidado pelo responsável pelo estacionamento, por ter questionado o horário de funcionamento menor para as bicicletas do que para os carros.

Mas calma lá, nem sempre o motivo é preconceito!

Claro, muita gente não realiza a ultrapassagem a um metro e meio de distância (art. 201 do Código de Trânsito) e nem diminui a velocidade ao ultrapassar (art. 220) apenas por não saber o quanto isso coloca em risco a vida de ciclistas, não necessariamente por preconceito contra quem usa a bicicleta.

Muitos estabelecimentos também não oferecem espaço para o ciclista estacionar porque não percebem que há uma fatia cada vez maior de consumidores usando a bicicleta para se deslocar. E, nesses casos, o dono do local é o maior prejudicado, principalmente quando algum concorrente percebe essa lacuna. Pena o empresário mal orientado não se dar conta.

 

A resposta ao preconceito racial nos anos 50…

Rosa Parks foi liberada no dia seguinte à sua prisão, graças ao líder de um movimento em defesa dos direitos dos negros (a NAACP). Ainda assim, sua prisão acabou levando a um boicote aos ônibus na cidade. A comunidade negra se organizou para espalhar a notícia sobre a ação, pedindo aos negros que não utilizassem nenhum tipo de ônibus no dia 3 de dezembro, nem mesmo ônibus escolares. Uma associação foi criada para coordenar o boicote, tendo o jovem pastor Martin Luther King Jr. como líder.

A adesão foi enorme e o boicote foi estendido. Como 75% dos usuários dos ônibus eram negros, o sistema municipal de transporte chegou a ficar seriamente comprometido em termos financeiros. Mais de 300 pessoas ofereceram seus carros para um esquema de carona solidária. Um estacionamento no centro chegou a ser criado para receber e transportar as pessoas para diferentes partes da cidade.

Taxistas negros cobravam pela viagem a mesma tarifa cobrada pelos ônibus. As pessoas eram incentivadas a usar bicicletas, mulas, carroças ou caminhar até em casa. Durante os horários de pico, as calçadas ficavam lotadas. Em todo o país, as igrejas dos negros levantavam dinheiro para apoiar o boicote e enviavam sapatos para repor os calçados dos irmãos de Montgomery, que preferiam andar a pé a se humilhar nos ônibus.

A principal demanda era a demarcação das áreas para negros nos ônibus. Pode parecer estranho por ser uma forma de segregação, mas era mais fácil conseguir isso naquele momento do que o uso comum do espaço por todas as pessoas.

Reações

As ações dos negros eram todas pacíficas, tendo como bases o boicote e o reconhecimento de seus direitos civis. Em contrapartida, os brancos puniam através da lei, com multas e prisões, e da força, agredindo participantes do boicote nas ruas e queimando igrejas batistas e as casas de alguns dos líderes do boicote, como a de Martin Luther King Jr.

King chegou a ser preso, junto a outros 155 manifestantes, por “frustrar” o serviço dos ônibus. Foi-lhe facultado escolher entre uma multa de US$500 ou passar 386 dias na cadeia; ele optou por ser preso. Depois de duas semanas na prisão, acabou por ser libertado, devido à atenção nacional ao caso. “Estou orgulhoso de meu crime, o crime de juntar meu povo em um protesto não violento contra a injustiça”, disse King.

O boicote se estendeu por mais de um ano e repercutiu em todo o país. Por fim, as leis de segregação racial do Alabama foram consideradas inconstitucionais, levando à criação de uma nova legislação que permitia aos passageiros negros se sentarem onde quisessem. Martin Luther King Jr. encerrou a festa da vitória com um discurso que ajudou a encorajar a aceitação da decisão.

As ramificações da ação foram muito além do objetivo inicial, estimulando uma luta nacional pela liberdade e pela justiça, o Movimento pelas Liberdades Civis, e deu a Martin Luther King Jr. notoriedade nacional, tornando-o um dos principais líderes da causa. Em 1963, viria a realizar o discurso que entrou para a história: “I have a dream”.

A atitude de Rosa Parks naquele dia e sua recusa em aceitar a humilhação ajudaram a tornar o mundo um lugar um pouco melhor para se viver. Para todos: negros, brancos, amarelos e verdes.

… e as respostas ao preconceito contra ciclistas atualmente

Ciclistas começaram a se unir em grande escala para lutar pelos seus direitos em 1992, em San Francisco, nos eventos chamados de Massa Crítica. Consistem em um uso pacífico e festivo das ruas por multidões em bicicletas, em passeios coletivos sem líderes ou organizadores. No Brasil e em Portugal, o evento passou a se chamar Bicicletada na maioria das cidades. Muitas organizações, grupos e ONGs em defesa do direito de uso das bicicletas também tem sido criadas. Cicloativistas em todo o país têm realizado ações, isoladas ou conjuntas, em defesa do direito de circular com bicicletas.

A principal demanda costuma ser a demarcação das áreas para bicicletas nas ruas, em forma de ciclovias e ciclofaixas. Pode parecer estranho por ser uma forma de segregação, mas é mais fácil conseguir isso nesse momento do que o uso comum do espaço por todas as pessoas.

Reações

Efetivo policial para conter os perigosos ciclistas: viaturas a perder de vista. Foto: Leonardo Cuevas

O poder público tenta vez ou outra coibir o uso coletivo das vias pelas bicicletas e as manifestações pacíficas de ciclistas que lutam pelo seu direito de circulação. O mais emblemático uso de força policial para combater uma manifestação pelos direitos dos ciclistas no país talvez tenha sido a ação contra a tentativa de descida coletiva de São Paulo a Santos, ocorrida em 2008. A pedido da concessionária que administra a rodovia dos Imigrantes, a Ecovias, a Polícia Rodoviária usou um grande efetivo para conter as centenas de ciclistas que se dirigiam tranquilamente ao litoral.

Os ciclistas utilizavam o acostamento, direito garantido por lei mas negado até hoje pela concessionária. Por mais absurdo que possa parecer, a proibição tem o apoio da ARTESP, agência que fiscaliza os serviços prestados pelas concessionárias de rodovias e que deveria garantir os direitos da população. De toda a população. Na ocasião, tentou-se explicar aos homens da PR a questão de direito, mas eles tinham suas ordens e foram irredutíveis. Depois de um dia inteiro tentando negociar com os homens armados, os ciclistas tiveram que voltar para casa. E fizeram tudo sem criar tumulto, sem arrumar confusão, sem uso de violência.

Em Curitiba, ciclistas que pintaram uma ciclofaixa “clandestina” em uma via da cidade, em 2009, foram levados à delegacia de meio ambiente por cometer “crime ambiental” e multados em cerca de R$3000.

No mesmo ano em São Paulo, um acostamento foi retirado para “melhorar o fluxo”, colocando pedestres e ciclistas em perigo por ter de circular em uma pista onde os carros excedem a velocidade, sem fiscalização. Ciclistas pintaram uma ciclofaixa no local como protesto e um deles foi levado à delegacia e teve que prestar serviços comunitários. Como cereja do bolo, a CET ameaçou multar os participantes da ação, fato que felizmente não chegou a se consumar.

No final de 2011, a EPTC de Porto Alegre tentou regulamentar e disciplinar o evento mensal da Massa Crítica local, uma manifestação pacífica que busca defender o simples direito de usar as ruas em bicicletas da mesma maneira que os demais cidadãos podem utilizá-las em seus automóveis. Em outras palavras, lutam pelo direito de não ter que ceder seu lugar a um carro que queira passar.

Até mesmo as ciclovias e ciclofaixas podem ser usadas como instrumento de segregação. Úteis para proteger o ciclista do fluxo rápido de automóveis, em certos casos são claramente criadas para tirar o ciclista do caminho dos carros, impedindo-o de utilizar a via e restringindo sua circulação a canteiros centrais inadequados ou cantinhos perigosos. Muitas vezes, é retirado o espaço já restrito do pedestre para dar lugar a uma ciclovia, para não ter que diminuir o espaço que se tornou exclusivo dos automóveis.

 

Exerça seus direitos e combata o preconceito

Você tem direito de usar sua bicicleta nas ruas. Use-a. Não ceda à opinião de familiares e amigos que, por questões culturais, ainda acreditam que lugar de bicicleta é só no parque e que você não deve circular com ela nas ruas. Acredite nos seus direitos e lute por eles. Você pode sim usar as ruas. Até a lei está a seu favor!

Freira pedalando em faixa compartilhada com ônibus em Salzburg, Áustria, sem ser desrespeitada. Foto: Paulo Assis, via Milton Jung

Ninguém tem o direito de fazer você sair do caminho para que ele possa passar, esteja você com um tanque de guerra ou um monociclo (exceções a veículos em emergência e outras situações especiais, claro).

É óbvio que você não deve desafiar um motorista insano que ameaça sua vida, mas não deixe de sair às ruas por causa dessa minoria desagradável, anticidadã, desumana e preconceituosa. Não podemos deixar que as ruas continuem sendo consideradas território proibido para as bicicletas, “cars only”. As ruas foram feitas para as pessoas, estejam elas em carros, motos, ônibus, bicicletas, a pé, em patins ou cadeiras de rodas. As ruas são de todos.

Cada vez mais, ciclistas têm se unido em associações e grupos como Ciclocidade, Instituto CicloBR, Transporte AtivoPedal Goiano, Pedala Manaus, Viaciclo, BH em Ciclo e tantas outras. A participação em associações, audiências públicas, manifestações e outras ações em defesa do direito de usar a bicicleta nas ruas ajuda a mudar a situação atual e a tornar as cidades mais democráticas, inclusivas e seguras. Pense nisso.

Mas se você não quiser participar de manifestações e ações diretas, tudo bem. Continue pedalando. Usar a bicicleta em seus deslocamentos é um ato de resistência, de certa forma até um ato político. Boicotar estabelecimentos, locais e empresas que dificultam o uso da bicicleta também ajuda a mudar as coisas – principalmente se você os fizer saber de sua decisão. Respeite quem lhe respeita, esclareça quem se dispõe a ouvir e ignore os demais. A esses, o tempo mostrará.

Só entende de fato a discriminação quem já a sentiu na pele, acompanhada da sensação de revolta e impotência que a situação costuma gerar.

 

Uma sociedade justa e inclusiva traz benefícios a todos

Em algum nível, mesmo que muito sutil, dependemos todos uns dos outros. Quanto mais digna, produtiva e feliz for a vida de seu vizinho ou do desconhecido que você vê atravessando a rua, melhor será a sua também.

Combata o preconceito. Promova a inclusão e a acessibilidade. Ajude a tornar o mundo um lugar melhor para se viver.

94 comentários em “Preconceito contra ciclistas

  1. Há pouco mais de 2 meses decidi pedalar pra ir trabalhar, motivado pelo Desafio sebrae que teve o tema “Bicicletas” e também para fugir do sedentarismo, o meu trajeto Maringá/Pr à Sarandi/Pr (10Km)é totalmente realizado na zona urbana, conto com uma ciclovia paralela a uma Avenida nova na Cidade de Maringá,percebe-se que há vários ciclistas que fazem o percurso porém não usam a ciclovia, acho que pensam que é calçada para pedestres, e os pedestreas a usam como pista de caminhada a outra metade (Sarandi-Pr) do caminho também é servida por uma ciclovia que está em péssimas condições, o grande problema fica no entroncamento Sarandi/Pr (BR 376) e Maringá/Pr (BR 276)ali está sendo feito algumas obras (anel viário) os ciclistas tem que atravessar várias faixas do trevo ali constante, há um pedacinho de ciclovia desativa onde carros, motos, carroças simplesmente passam por ali na contra-mão para não precisarem fazer os devidos contornos deste trevo e em frente a uma concessionária de caminhões os ciclistas arriscam suas vidas dividindo uma única faixa com carros, caminhões carretas, ônibus e ciclistas que vem em sentido contrário. Mesmo que nesse pequeno trecho os ciclistas quisessem usar o que deveria ser uma calçada não é possível, pois ali em frente a concessionária existe aquelas cercas vivas com espinhos, o que além de impedir o uso tira a visibilidade. Já vi ali carretas numa espécie de esquina quase atropelar ciclistas que aguardavam para atravessar que tiveram que se jogar nesses arbustos com espinhos para não serem passados por cima literalmente falando… É um descaso e um preconceito tremendo contra os ciclistas…

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  2. O mesmo aconteceu comigo,no meio do ano fui a um Shopping da Zona Leste, eu e meu irmão fomos barrados por andar de bike no estacionamento. No meio de dezembro, fomos até o interlar e fomos novamente barrados e obrigados a andar à pé com as bikes. Quando fomos estacionar, tivemos que deixá-las presas nas grades do estacionamento de motos.
    Se ciclista em estacionamento é perigoso, o que dizer de motoristas imprudentes e motoqueiros?! A nossa sociedade atual e os órgãos públicos precisam repensar a maneira de amadurecer a ideia de ampliar ciclivias, ciclofaixas e incentivar o ciclismo, porque da maneira que está, continuamos marginalizados e sem um mínimo de respeito.
    Um shopping do tamanho deste que promove passeios ciclísticos que não tem um pingo de respeito pelo cidadão, apesar de ser ciclista de final de semana, também pago meus impostos que não são poucos e além do mais estamos contribuindo para a preservação da camada de ozônio.

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    1. No Internacional Shopping, em Guarulhos, também já fui abordado por segurança por estar trafegando nas ruas do estacionamento de bicicleta. Quando disse que estava indo deixar a bicicleta no “estacionamento” deixaram eu continuar pedalando. O maior shopping de Guarulhos, que dispôe de mais de 4.000 vagas para carros coloca a disposição dos ciclistas um cercadinho nos fundos de uma das áreas de estacionamento onde temos que deixar a bike presa na própria grade que delimita a área e ainda têm a cara de pau de colocar uma placa comunicando que não se responsabilizam com danos causados as bicicletas.

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      1. Marcos, mesmo com a placa, o estabelecimento tem responsabilidade sobre os veículos em seu estacionamento. E bicicleta é veículo, de acordo com a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro).

        Mais informações aqui: http://vadebike.org/2010/06/gentileza-nao-e-lei/

        Este artigo discute a questão de responsabilidade sobre veículos (embora fale sobre carros) e afirma que são “É NULA E ABUSIVA AS PLACAS QUE AFASTAM A RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES DE PRODUTOS E SERVIÇOS POR SEUS ESTACIONAMENTOS, TENDO ESTES O DEVER DE INDENIZAR OS CONSUMIDORES POR QUALQUER DANO QUE ESTE VENHA A SOFRER NO ESTACIONAMENTO, POIS É DEVER DOS SHOPPINGS, SUPERMERCADOS E DEMAIS EMPRESAS QUE TENHAM ESTACIONAMENTOS DE PRESTAR SEGURANÇA AOS CONSUMIDORES, NÃO SENDOP ADMISSÍVEL A ALEGAÇÃO DE CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR”:
        http://www.artigonal.com/jurisprudencia-artigos/direito-do-consumidor-a-responsabilidade-das-empresas-pelos-estacionamentos-602859.html

        Não acredite na placa e, tendo prejuízo, junte provas, testemunhas, comprovantes e busque seus direitos.

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  3. Meus parabéns, pelo artigo. Excelente a ideia de comparar com o apartheid sofrido pelos negros americanos nos anos 50 !!! Brilhante !!!
    Alguns lugares, como onde eu trabalho, já permitem estacionar as bicicletas junto com as motos. Com o tempo gostaria de conseguir que permitissem aos ciclistas utilizarem os vestiários para se lavar ao chegarem, o que possibilitaria que fosse trabalhar de bike. O meu “porém” para ir trabalhar de bicicleta por enquanto é o problema de chegar muito suado no trabalho, onde tenho que trabalhar no social, por isto vou de moto, mas iria facilmente de bicicleta em 40 minutos.
    Parabéns pelo artigo mais uma vez.

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  4. Sim. Uma vez um segurança de banco disse que não poderia entrar com a bike – uma Trek Top Fuel – no estacionamento… desmontei, fui até ele e deixei a bike na mão dele dizendo: “Desculpe incomodá-lo mas, ponha onde achar melhor! Ah… custa R$ 20.000! Ficou branco de medo e guardou num cantinho bem protegido.

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  5. Realmente o problema é o preconceito, pois é ele que segrega uma classe, por motivo de cor, condição social, opção sexual e outros fatores mal-vistos pela sociedade em geral. Fui ciclista por muitos anos, tendo a bicicleta como principal meio de locomoção, mas devido á alguns problemas de saúde, limitei o uso da bike no dia-a-dia. A moto e o carro passaram a fazer parte da minha vida, assim como o onibus, e digo aos amigos que em todos esses meios de transporte existe preconceito. Meu carro é um fusquinha, velho e enferrujado, mas com a mecanica devidamente revisada e em dia, mas quando circulo com ele nas ruas, avenidas e estradas, sofro com a agresividade dos outros motoristas de veículos mais rápidos, que se irritam com o fusquinha circulando em velocidade permitida na via. A moto também é fator de olhares de reprovação, pois os motociclistas são vistos como desordeiros, aproveitadores e quebradores de retrovisores. No onibus existe preconceito de todas as maneiras, mas experimente convidar alguém para passear de onibus que você descobre um mesmo antes de entrar neles. Como podem ver, não é só a bike que sofre preconceito como meio de locomoção, tudo que destoe do uso comum já é mal-visto, reprovado e hostilizado pelo resto da sociedade, não tendo vez com a burguesia cabeça-fechada. Mas vamos continuar lutando para que haja igualdade de direitos, cada um optando e circulando em paz, da maneira que lhe for melhor e sem agredir o direito do seu próximo.

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    1. Concordo plenamente. Preconceito existe em todas ás áreas na sociedade. A origem é no ser humano. Onde houver um ser humano, haverá algum preconceito mesmo que não seja conscientemente.

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  6. Legal! Ontem também pensei na noção de apartheid ao analisar o ótimo artigo do site Bike Is Beautiful, do porto-alegrense Enrico Canali. Eu entendi o conceito como um apartheid contra as pessoas usando a bicicleta, os ciclistas mesmo em oposição com os motoristas que de fato tem muito mais direitos que os ciclistas…. Gostei na verdade do seu termo “apartheid veicular”, ficou legal.
    É interessante que eu já andei sentindo minha exclusão desde que comecei a ir trabalhar de bicicleta aqui, na Grande Vitória. Minha experiência com bicicleta no passado foi na França e na Holanda onde eu nunca tive esse sentimento forte de exclusão. Nesse ano 2011, o sentimento de exclusão se junta a um sentimento de esperança quando vejo grandes capitais começar realmente a construir ciclovias de maneira acelerada. Minha esperança é que essa tendência se espalha nas outras capitais e cidades do Brasil.
    Quando se trata de exclusão de ciclista eu sempre lembro do livro de Roberto da Matta, “Fé em Deus é pé na tábua Ou Como e Por que o Trânsito Enlouquece no Brasil”. Ele descreve o espaço das ruas como um espaço sem lei onde o mais forte se impõe. Ele descreve a rua como um espaço onde existe uma hierarquia do motorista de caminhão, de ônibus passando pelo motorista de carro, ciclistas até o pedestre que se encontra no baixo da hierarquia. É bem interessante o ponto de vista mostrado nesse livro. Está me ajudando para interpretar os comportamentos imprevisíveis de alguns motoristas e me permitiu entre outras coisas desenvolver uma técnica de ocupação de pista.
    cf minha postagem http://vitoria-sustentavel.blogspot.com/2011/12/apartheid-contra-ciclistas.html
    Abraços,
    Emmanuel, Blog Vitória sustentável

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  7. Ótimo post! Pedalar nas grandes cidades é uma aventura e um desafio constante. Mas não deixa de ser um prazer pra mim! Moro em Curitiba há dez anos. Pedalo aqui há oito, sendo diariamente há mais de dois anos. Nenhum acidente até agora (ufa!). Buzinada? Várias! Sustos, fechadas, caras feias na minha direção. Surpresa no rosto de crianças dentro dos carros… Em todos os meus grupos de convivência (trabalho, facu, família, corrida, botecos…) tem gente que não compreende a dimensão de tudo o que o Willian falou no artigo: nem da questão da saúde, do meio ambiente, do calor humano e principalmente do lado político que utilizar bicicleta como meio de transporte pode ter. A insistência em se exercer o direito de ir e vir, de poder estacionar e de não ser classificado como inferior por estar sobre uma bicicleta incomoda motoristas e autoridades sim! Pedalo nas ruas e nas canaletas. Aliás me sinto mais seguros nos espaços exclusivos para ônibus. Os condutores destes enormes e rápidos coletivos são mais gentis que motoristas de veículos pequenos. Não tento convencer ninguém a ir pro trabalho de bike como faço diariamente. Apenas convido quando entram no assunto comigo. Falo dos benefícios, como não pagar tarifa alguma, não ter que no ponto e chegar mais rápido ao destino, por exemplo. E vou ganhando tempo, saúde e gastando menos, a despeito da indiferença das autoridades e da cara feia dos motoristas 😀

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    1. Boa citação que é a realidade “Os condutores destes enormes e rápidos coletivos são mais gentis que motoristas de veículos pequenos.”, claro, com excessão de alguns poucos (como no caso da Márcia Prado). No texto também tem uma citação boa “Respeite quem lhe respeita, esclareça quem se dispõe a ouvir e ignore os demais. A esses, o tempo mostrará.”. Acredito que tudo é questão de cultura e hábito, com um pouco mais de tempo, seremos melhor aceito. “I Have a Dream”.

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      1. Gostei de:
        Acredito que tudo é questão de cultura e hábito, com um pouco mais de tempo, seremos melhor aceito. “I Have a Dream”.

        Só não sei quanto tempo isso vai levar. Provavelmente vai ter que lutar um pouco. Até na Holanda lutaram para chegar onde chegaram agora.

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  8. Texto irretocável. Abrangente, esclarecedor. É incrível a cara-de-pau do estabelecimento (não) citado, é impressionante o desrespeito diário e descarado à lei. Será tão difícil ver o que está diante dos olhos, que a cidade sem os carros em excesso fica muito melhor de se viver, exatamente como está agora nas férias?

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  9. Willian, que lindo artigo! Um dos mais inspiradores, sobre bicicleta, que já li. Parabéns. É realmente um ato político pedalar numa grande cidade. O faço há dois anos com um imenso prazer. Prazer porque é gostoso e prazer, principalmente, por saber que estou lutando por uma cidade melhor para todos. Usar a Bike como meio de transporte mudou completamente a minha vida e a forma de ver o mundo. Tenho certeza que a mudança foi para melhor.
    Ao escancarar o preconceito que existe contra os ciclistas você prestou mais um grande serviço à causa e, portanto, a todos os brasileiros.
    Obrigado e, mais uma vez, parabéns. Que em 2012 a gente siga lutando com mais força contra o preconceito, contra a discriminação, contra a intolerância. Só assim teremos cidades mais humanas e gostosas para se viver.
    Forte abraço,
    Andre Kehdi

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  10. Até ler este artigo eu pensava que a melhor estrategia seria negociar com as “OTORIDADE” a questao da proibiçao de passar de bike pela Ponte Rio Negro, após ler tudo com atençao, já penso que devemos ter uma “data limite” para dar uma chance ao bom senso e depois disso, fazermos uma “invasao” de bikes na ponte, ate mesmo com um numero suficiente para bloquear o fluxo, obrigando os motoristas a fazer a travessia em “velocidade de bicicleta” inclusive chamando imprensa pra acompanhar e obrigar as autoridades ao CUMPRIMENTO DA LEI!

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  11. Há também aquelas empresas que não permitem que seus funcionarios utilizem a bicicleta como meio de transporte por temor de ações trabalhistas em casos de acidentes e roubos de notebooks. Essa é uma barreira que deve ser quebrada.

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    1. Exato Edson!

      Eu mesmo precisei subverter a recomendação da área de SSMA que disse: “Utilize a bicicleta no trajeto apenas se houver ciclovia em todo o percurso (?!?!?)”. Perceba que a recomendação é totalmente destituída de realidade. Isso não existe. Mas é através dessas recomendações que as empresas se posicionam FORMALMENTE.

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  12. Olá. De maneira geral, esse texto traz argumentos bastante contundentes sobre a questão da exclusão da bicicleta como meio de transporte. Volta e meia discuto isso com alguns amigos, me questionando o porque de não se criar um sistema que facilite o trânsito de ciclistas pela cidade, o que certamente diminuiria congestionamentos, além de ser um meio de transporte mais saudável tanto para quem dirige quanto para o resto da sociedade que se livra da fumaça dos automóveis.

    Acho que muitas das considerações trazidas acima devem ser discutidas com profundidade e isso tem de ser ampliado como assunto que tem certa emergência. No entanto, para alguma das coisas, não considero ser taxativo. Por exemplo, quanto à questão de ciclistas circularem em vias de automóveis. Acredito que isso, de forma alguma, signifique não considerar bicicleta um veículo, mas sim pode ser visto, nos casos em que realmente há esforços nesta direção, como uma tentativa de ajustar às características de cada meio de transporte.

    Vejamos o caso de pedestres. Lhes é conferido o direito de transitar por calçadas e ter a preferência de circulação nestas. Não discutirei as subversões a esta lei, que existem e me deixam profundamente irritado. Mas o fato é que pessoas circulando a pé não têm condições de ocupar a mesma via de veículos automatizados. Tanto de segurança quanto de adequação ao fluxo, à velocidade da via.

    Vejo isso da mesma forma para as bicicletas. Ciclistas não são pedestres. Têm ao seu domínio um veículo. Mas também não considero com condições de dividir espaço com automóveis. Se já considero perigoso o trânsito de motos com carros, por conta da maior agilidade e pouca proteção que a moto confere, essa preocupação triplica no caso de ciclistas, que, além de tudo, não têm condições de acompanhar a velocidade do fluxo dos carros. Então, considero como ideal a construção de vias para ciclistas, mais ou menos como existe na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, porém mais largas. E que os ciclistas, por sua vez, assim como pedestres e motoristas de automóveis, respeitem a legislação de trânsito que é, a todo tempo, transgredida.

    Posso não ser a melhor fonte de opinião quanto a isso por não ser ciclista e nem nunca ter feito estudos sobre isso, mas tenho amigos e meu próprio pai fazia muito mais uso da bicicleta como transporte quando ainda morava no Rio de Janeiro, onde existe uma melhor condição para o ciclista circular nas ruas.

    Claro, óbvio e evidente que ninguém tem o direito de passar por cima de uma lei simplesmente porque detém um maior poder sobre a situação. Os carros não podem exigir a saída de uma bicicleta de sua frente simplesmente porque são maiores e podem causar danos ao outro. E, tendo em vista a organização de muitas cidades brasileiras, como Salvador, onde resido, ainda se faz realmente necessário esse compartilhamento. Mas não acho a situação ideal.

    Quanto a outras questões de discriminação destinada a ciclistas em shoppings e mercados, é absurdo. Um bicletário não é algo complicado de se fazer. E circular de bicicleta está muito, muito longe de ser algo que reduza a condição de consumo de alguém, isso para ser bem reducionista na análise, porque, de fato, as pessoas são discriminadas não só por andar de bicicleta como também pela forma como se vestem, pela cor da pele, enfim, coisas que fazem muitos de nós ficarem enjoados.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 5 Thumb down 6

    1. Ótimas suas colocações. Só tenho um ponto a acrescentar.

      De fato, a maior parte das ruas das nossas cidades não permite o compartilhamento do espaço entre carros e bicicletas, pois os primeiros andam muito rápido e ocupam todo o espaço.

      Mas essas ruas não surgiram assim. Elas foram sendo construídas assim ao longo de pelo menos sessenta anos. Por seis décadas a infraestrutura de vias foi sendo transformada para que os carros andassem cada vez mais rápido e ocupando mais espaço, expulsando o resto. As ruas não apareceram do nada, como se fossem um acidente da natureza. Elas foram construídas e transformadas, e a preferência pelo carro ao longo dos anos tornou-as perigosas para as pessoas.

      Então, não se deve desistir do compartilhamento das ruas porque elas são perigosas. É exatamente o contrário, elas são perigosas porque não permitem o compartilhamento. A causa que você aponta, na verdade, é o resultado de um vício no desenho das nossas cidades. Inverter essa causalidade gera um círculo vicioso: tira-se as pessoas da frente dos carros porque eles são perigosos, e os carros ficam mais perigosos porque ocupam um espaço sem pessoas.

      É algo que o William sempre escreve aqui: a infraestrutura ajuda a proteger, mas é preciso, ao mesmo tempo, mudar o modo de pensar o espaço urbano. Não adianta segregar pedestres e ciclistas se as ruas permanecem apenas para carros em atitude cada vez mais rápida e desumana. Primeiro, porque não há espaço para segregar tudo; segundo, que o espaço que deveria ser de todos torna-se proibitivo para a maioria das pessoas. Isso é o contrário da cidade, cujo propósito é reunir as pessoas num espaço.

      Um exemplo prático é Brasília. Tente andar a pé no centro: há lugares que você só atravessa 500m de chão com segurança se comprar um carro ou pagar um táxi. Há muito de desumano, da velocidade dos veículos aos espaços e trincheiras intransponíveis. Isso é o contrário de liberdade de deslocamento.

      A rua é de todos. Para isso funcionar, é preciso trabalhar em todas as frentes: da infraestrutura à perspectiva do espaço urbano.

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    2. Olá, Vitor, eu pensava assim também. Como moradora de Brasília me parecia bem normal pegar o carro para andar 3 km. Ocorre que quando comecei a perder meia hora para fazer este trajeto em determinados horários (4 vezes por dia o trânsito praticamente para), vi a perversidade e a inversão dos valores. Temos o Eixo Monumental que tem SEIS FAIXAS de rolamento em cada sentido e mesmo assim engarrafa nos horários de pico, onde andar 11 km significa gastar UMA HORA! Cada carro aqui leva uma pessoa, se cada pessoa estivesse em sua bicicleta ou em um transporte público decente todos chegariam mais cedo e mais felizes ao destino, mesmo aqueles que não podem abrir mão de carro particular. Além desse aspecto prático, a lei está aí para ser cumprida PONTO Bicicleta é veículo e copartilhará a via com os veículos até que outra lei revogue a que está vigente, e se alguém discorda deve questionar judicialmente e não tentando assassinar pessoas para fazer valer sua vontade (sei que não é seu caso, compreenda, falo de outras pessoas).

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    3. Olá, Vítor!!
      A via é para ser compartilhada por todos, a via tem limite de velocidade, aliás os automóveis deveriam sair de fábrica com limite de velocidade adequados às vias, pois o automóvel foi inventando para facilitar o transporte e locomoção e não para competição para ver quem chega primeiro…
      …pois no Brasil a cultura é de acelerar, poluir, passar por cima de tudo e de todos.

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    4. Opa. Legal as respostas. Bom, acho que o que Pedro é colocou é bem válido. É preciso repensar, e bem profundamente, a forma de pensar o espaço urbano. E em diversos aspectos. Achei sensacional a idéia que é passada no video compartilhado por Emmanuel. E é algo plenamente viável, com boa vontade e educação. E, o principal, é uma das alternativas.

      Dá pra ver que ali o compartilhamento funciona, além de existirem algumas vias do tipo “bicycle only”. Mas, ainda assim, tenho uma certa dificuldade de vislumbrar algo do tipo em vias de maior velocidade.

      Rosana falou de uma questão que é bem interessante. Vias muito largas são complicadores pra circulação de pessoas. Brasília, pelo que soube, expulsa as pessoas da rua e reforça a idéia dos carros, apenas. Isso é muito ruim. Aqui em Salvador é algo cultural. Pouca gente circula a pé nas ruas, o que “contribui” para o surgimento de engarrafamentos e o aumento da poluição. A grande maioria das pessoas pega um carro para fazer um percurso de 1km. E ainda param o carro no meio da rua, ocupando toda a calçada ou qualquer outra falta de educação a mais. A chamada preguiça, que não é defeito apenas dos baianos, é bom que se diga!

      Também concordo que lei deve ser cumprida. O que se vê de gente avançando o sinal, entrando na contramão e outras subversões a mais é algo incontável. Eu mesmo tou pra abrir um BO por conta do constante tráfego na contramão onde resido (pra evitar fazer um volta que consome 1 ou 2 minutos, embora o tempo perdido não seja o mais importante). Assim, concordo, e jamais diria o contrário, que os ciclistas devem ser respeitados, mais aceitos e, inclusive, incentivados.

      Daniel também tocou em um ponto interessante. Acho que os carros deveriam ter um limite de velocidade compatível com as cidades. Também acho que os radares não deveriam ser anunciados. Limite de velocidade é para ser respeitado. Tanto para cima, quanto para baixo. E é nesse ponto que eu julgo complicado fazer com que carros e bicicletas compartilhem o mesmo espaço de trânsito em vias de maior velocidade, como máxima em 80km/h.

      Não sei o que pode surgir de idéia quanto a isso. E seria até interessante ouvir de alguém daqui alguma, mas ainda é difícil para mim pensar em uma solução para compartilhar tais espaços. Ainda acho que se humanizar é totalmente necessário, atentando para as diferentes necessidades das diferentes áreas e lidando com elas de acordo com suas especificidades.

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      1. Vitor, no vídeo que compartilhei, mostra os bicycle boulevards que só funcionam se a velocidade dos carros é baixa, no máximo 40 km/h. São usadas lombadas ou outros sistemas para limitar a velocidade dos carros de fatos. São fechados também as entradas nessa ruas especias a partir de grande avenidas. Precisa na verdade virar duas vezes para entrar nesse tipo de rua. Em geral so entrar quem mora na rua ou quem precisa resolver algo naquela rua. Só preciso de poucas ruas assim para permitir a mobilidade do ciclista com segurança. Isso é para bairro residenciais por exemplo. Isso tem que ser combinado com ciclovias é claro para ligar os bairros entre eles por exemplos ou para ruas de grande movimentação etc… Isso é complementar dos boulevard bicycle… Um bicycle boulevard não é só sinalizar que o ciclista é prioritário, assim não funciona não é suficiente…

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    5. Quando o jovem urbanista dinamarquês Jan Gehl, lá por 1960, propôs fechar uma das principais vias de tráfego de Copenhagen para dar lugar a um calçadão, os dinamarqueses disseram que “não eram italianos” para ficarem saindo à rua (comparando o comportamento nórdico mais frio com o latino). Em três semanas o sucesso provou que a medida foi a mais acertada. Atualmente nós brasileiros dizemos “não somos europeus” e que não seríamos capazes de criar um ambiente adequado para bicicletas. Mas o Rio de Janeiro está entre as 18 melhores cidades DO MUNDO para pedalar! Yes, we can!

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    6. Vitor, eu respeito sua opinião, mas discordo quanto à impossibilidade de co-existerem, nas mesmas estruturas, carros, motos e bicicletas.
      Sou de SP, acho muita falta de inteligência uma pessoa entrar num veículo de 4 rodas para se deslocar. Uma pessoa que perde 2hrs por dia dentro de um carro, gastará, ao cabo de um ano, quase 3 semanas DENTRO do carro. Já acho que o carro começa errado: Poluí mais (pois fica muito mais tempo ligado que uma moto), ocupa mais espaço, é pouco ou nada prático.
      Porém é maior. Mais forte… pode facilmente ser arremessado para cima de um pedestre, ciclista, motociclista….
      Cabe ao mais forte proteger o mais fraco no trânsito. Afinal, se no lugar das bicicletas, fossem betoneiras, eu duvido que os bravos motoristas de carros teriam a mesma disposição em atirar-se contra elas.

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  13. Moro em Campo Largo, região metropolitana de Curitiba, estou de bike nova, fiquei um tempão sem bike, quero compartilhar com vocês minha esperiência em minha cidade.
    Fui ao centro de Campo Largo, pedalando minha bicicleta nova, esse pequeno período de uma hora entre pedal e compras em dois lugares rendeu histórias, vou fazer um relato do meu passeio.
    Sai de casa pedalando pelas ruas do bairro, tem buracos mas tudo bem, chegando na Avenida Padre Natal Pigatto começa o problema, fiz um trecho de um quarteirão sem ciclovia, fui pela calçada, não tinha movimento de pessoas e a largura permite compartilhamento; passei pela entrada da Incepa e oba ciclovia, cheia de buracos, irregular e estreita, ufa, semáforo e ciclovia mais larga, cheia de buracos e irregular, socorro tem um ponto de ônibus no meio da ciclovia, pronto cheguei na pracinha do colégio e acabou a ciclovia; tudo bem a Rua Marechal é larga o suficiente para compartilhar com os carros, pedalei até a JB embalagens, aquela ao lado da ACICLA, pois tem onde colocar a bicicleta em segurança, sai em direção ao Supermercado Druziki que estacionamento de bicicleta; retorno pela Xavier da Silva traquilo, não tinha movimento, o problema é atravessar a rotatória, não tem faixa de pedestres ou similar, sobrevivi e fiz o caminho de volta para casa. Como na JB não tinha tudo o que eu queria tentei parar na Embalagens Campo Largo, porém não tem espaço para estacionar a bicicleta, tem tanta coisa da loja para fora que não sobra espaço, vim embora sem o prato que eu queria. Logo mais aventuras de bicicleta pela cidade não amiga de bicicletas.
    “Tá com pressa? Vá de bike.”

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