A avenida é rota conhecida dos ciclistas, que raramente optam pelas paralelas. Foto: Willian Cruz

Audiência Pública sobre ciclovia da Av. Paulista será quinta 6/11, às 19h

Cidadãos, entidades e até vereadores contrários à ciclovia também devem participar, portanto isso a presença maciça de ciclistas é fundamental. Divulgue!

Rota conhecida dos ciclistas, avenida terá ciclovia em 2015. Foto: Willian Cruz
Rota conhecida dos ciclistas, avenida Paulista precisa de uma ciclovia. E pra ontem. Foto: Willian Cruz

Atenção ciclistas de São Paulo e demais cidadãos interessados na mobilidade sustentável: na próxima quinta-feira, 6 de novembro, às 19h, acontece na Câmara Municipal de São Paulo uma Audiência Pública para discutir o projeto da ciclovia da Av. Paulista. Cidadãos, entidades e até vereadores contrários à implantação da ciclovia também devem participar da audiência e pedir a palavra, por isso a presença maciça de ciclistas é fundamental.

A via para ciclistas na avenida símbolo da cidade foi anunciada pela Secretaria de Transportes (SMT) em setembro deste ano. Segundo o secretário Jilmar Tatto, a previsão é de que as obras, que iniciam em janeiro, estejam concluídas até junho. ”A expectativa é manter as condições de segurança e fluidez do trânsito com a transferência das bicicletas para uma pista definitiva, garantindo um conforto maior aos usuários da Avenida Paulista, principalmente aos ciclistas e pedestres”, afirmou o secretário. Conheça detalhes do projeto.

Movimentação contrária

A audiência está sendo realizada pela Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente, que tem como presidente Andrea Matarazzo (PSDB). O vereador chegou a se posicionar contrário à ciclovia, afirmando que “se faz de tudo para os ciclistas e se esquece dos carros” e que o canteiro central, onde ela será construída, é “essencial para a segurança de pedestres e motoristas“. Devido à repercussão negativa de suas declarações, Matarazzo posteriormente mudou de opinião, passando a ser favorável à estrutura.

A Associação Paulista Viva também contesta a construção da ciclovia, alegando serem necessários “estudos mais aprofundados”, para que a intervenção possa “atender a todos os cidadãos de forma justa”. Entre outros questionamentos, apontam uma suposta “descaracterização” da “ideia de boulevard” da avenida. O posicionamento da entidade continua e, provavelmente, haverá um representante para defendê-lo.

Vale lembrar que, durante audiência pública sobre a Operação Urbana Faria Lima, chegou-se a afirmar que ninguém “se atreveria” a andar de bicicleta na Av. Faria Lima, principalmente à noite. O tempo tratou de mostrar que essa era uma preocupação infundada: dois anos depois de sua inauguração, a ciclovia da Av. Faria Lima tem alta utilização a qualquer hora do dia – e esse uso cresce cada vez mais. Pelo perfil de uso da Avenida Paulista, o mesmo deve ocorrer por lá – e muito mais rápido.

Enquanto uma pequena parte dos paulistanos ignora a importância de uma ciclovia na avenida, ou discute se o projeto apresentado é perfeito, se agrada a todos ou se vai tornar a avenida “feia”, nós, ciclistas, continuaremos pagando com nossas vidas. Não podemos permitir um adiamento dessa implantação, sobretudo quando o objetivo é postergá-la ad eternum – ou até que surja um projeto que reforme a avenida de parede a parede, junto com os recursos para implantá-lo (que não seriam modestos e nem fáceis de se conseguir).

A presença dos ciclistas é importantíssima, para demonstrar apoio e esclarecer nossas demandas e necessidades. Compareça!

Ciclovia é necessária

Uma Ghost Bike marca o local onde Márcia Prado sucumbiu sob as rodas de um ônibus. Foto: Willian Cruz
Uma Ghost Bike marca o local onde Márcia Prado sucumbiu sob as rodas de um ônibus. Foto: Willian Cruz

Segundo dados da CET, a Av. Paulista é a via com mais acidentes com ciclistas por quilômetro em São Paulo (foram 15 – registrados – entre 2009 e 2011). Nela ocorreram atropelamentos emblemáticos, como as mortes de Márcia Prado (2009) e Julie Dias (2012) e o caso de David Santos Souza (2013), que teve seu braço arrancado ao ser atropelado em área segregada com cones por um motorista embriagado. Mais recentemente, Marlon Moreira de Castro também sucumbiu no asfalto da avenida, ao ser atropelado por um ônibus. Mas por que, apesar disso, os ciclistas continuam utilizando a avenida?

A Paulista é um dos melhores caminhos quando se está de bicicleta por ser o mais curto e mais plano, dando acesso a várias regiões da cidade. O eixo do “espigão”, que vai do Jabaquara a Perdizes, é relativamente plano, com desnível irrisório e bem distribuído ao longo de seus mais de 13km de extensão. Qualquer rota alternativa implica em muitas subidas e, geralmente, aumento da distância percorrida – o que todo ciclista que está realizando um deslocamento sem intenção de treino costuma evitar.

Devido a essas características, muitos cidadãos utilizam a avenida diariamente em seus deslocamentos de bicicleta.  É o que mostra, por exemplo, a contagem fotográfica realizada pela Ciclocidade em 2010. Naquela ocasião foram fotografados 733 ciclistas em um espaço de 16 horas, com uma média de 52 ciclistas por hora – equivalente a cerca de uma bicicleta por minuto. Entre as 17 e 18 horas a frequência atingiu seu pico, com 86 ciclistas em uma hora. E isso sem estrutura específica para sua circulação, com boa parte dessas pessoas utilizando o mesmo espaço onde circulam os ônibus – ou até mesmo as calçadas. A medição foi realizada justamente no cruzamento onde ocorreu a morte de Marlon.

Ao avaliar esses números, deve-se considerar também o aumento inegável no uso da bicicleta desde então, passados quatro anos. Uma ciclovia na avenida terá alta utilização, como vem acontecendo com a ciclovia da Av. Faria Lima, um local onde quase não passavam ciclistas e hoje circulam cerca de dois mil por dia (ou mais). E ainda há a demanda reprimida: hoje, muitas pessoas que teriam a Paulista como parte do trajeto ou mesmo como destino deixam de utilizar a avenida ou até mesmo de circular em bicicleta, por receio da falta de receptividade dos motoristas que ali trafegam.

Saiba aqui por que os ciclistas continuam (e continuarão) utilizando a Av. Paulista, por mais que se incentive sua circulação nas vias paralelas. E entenda neste artigo por que as ciclovias são tão importantes para a cidade, seja na Paulista ou na Belmira Marin.

Onde e quando

Câmara Municipal de São Paulo
Viaduto Jacareí, 100 – Bela Vista (veja mapa)
São Nobre – 8º andar

Quinta-feira, 6 de novembro, às 19h

Bicicletário

A Câmara Municipal dispõe de bicicletário no 1º subsolo. Entrada pelo estacionamento, na lateral esquerda do prédio (R. Santo Antônio). Leve sua tranca.

Participe ativamente

Audiências Públicas permitem a participação popular. Cidadãos podem se inscrever para ter a palavra no auditório após a apresentação do projeto.

Compareça e ajude a defender a implantação dessa ciclovia. Não dá mais para esperar: qualquer atraso pode vir a ser pago em (mais) vidas.

10 comentários em “Audiência Pública sobre ciclovia da Av. Paulista será quinta 6/11, às 19h

  1. Nas minha opinião a implantação de ciclovias ( de fato ) em grandes vias de circulação é o melhor estímulo ao uso de bicicleta. Sendo a Av. Paulista icônica, terá uma importância maior. Gostaria que se fosse feito em outras vias como Av. Berrini, Av. São João, Av. do Estado, Av. Jaguaré, Av. Sumaré ( já satisfatoriamente implantada ), Av.Vergueiro ( Utilizando a não utilizada pelas motos ), assim por diante.

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      1. Espero que seja canteiro central, mas há um problema em vários pontos há “vão abertos” para o córrego que passa ao longo da avenida. Não tenho idéia como farão isto. Vai ter audiência sobre esta solução ?

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  2. Total apoio à implantação das ciclofaixas da Paulista. Necessárias e bem-vindas! Que se tornem realidade e sejam realmente utilizadas pelos cidadãos. Todos merecemos este espaço. Que as ruas sejam cada vez mais compartilhadas entre os diversos tipos de veículos, desde os de massa aos individuais mecânicos.

    Agora, apenas um comentário-desabafo.
    Engraçado que o decreto recém-derrubado pelo Congresso (Eu li na íntegra e não tem NADA de “bolivariano”) era EXATAMENTE para regulamentar esse tipo de “conversa” entre a população – que neste caso, são as entidades E os cidadãos pró e contra as ciclovias – e o governo, representado por um grupo de parlamentares.
    Só que com as PNPS, haveria registro, ata e protocolo para acompanhamento dos trâmites acertados durante as conversas. Agora, nesta Audiência, se daqui um ano, ninguém mais comentar o que se conversou nela, ficará por isso mesmo.

    E as PNPS ainda evitariam esse apelo de “compareçam em massa”, pois todos os ciclistas estariam representados por um grupo ou comissão escolhidos por eles, via abaixo-assinado por exemplo.

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  3. parafraseando um engenheiro de uma grande fábrica de automóveis, não precisamos provar que é perfeito, basta que seja melhor que a situação atual.
    O contexto original é de convencer os legisladores a permitir a circulação de carros autônomos (que não precisam de motorista)

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  4. Como é complicado pedalar numa metrópole brasileira. Você ouve tanta desculpa esfarrapada que fica até na dúvida se o ser humano é mesmo racional. Alias, deveriam mudar essa classificação, o ser humano é um animal capitalista.

    Comentário bem votado! Thumb up 4 Thumb down 0

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