Três envolvidos, três versões: as contradições sobre a morte de Marina Harkot
Comparamos as declarações dos três envolvidos na morte da ciclista: José Maria da Costa Júnior, Isabela Serafim e Guilherme Dias da Mota
A Polícia Civil identificou a outra pessoa que estava com José Maria da Costa Junior no momento do crime que levou à morte de Marina Harkot. De acordo com reportagem do SBT, o terceiro ocupante do veículo é Guilherme Dias da Mota, de 21 anos, auxiliar de escrevente. Junto a eles estava ainda Isabela Serafim, também de 21 anos. Guilherme também foi indiciado pelo crime de omissão de socorro qualificada.
Fizemos uma comparação com a versão de cada um dos envolvidos, para tornar claras as contradições e também onde elas coincidem. Usamos a entrevista do atropelador, o depoimento de Isabela e o depoimento de Guilherme. Quem está mentindo?
Chegada ao bar
José Maria: Diz ter trabalhado no sábado, 7 de novembro, e depois foi ao encontro dos amigos Isabela e Guilherme, no Bar Zé da Praia, Vila Madalena.
Isabela: Chegou ao bar Zé da Praia por volta das 19h, acompanhada de Guilherme. José Maria os encontrou por volta das 20h.
Guilherme: Afirma que José Maria já chegou alcoolizado ao bar onde os dois o esperavam.
Ingestão de bebida alcoólica
José Maria: Alegou em entrevista que não bebeu, apenas acompanhou os amigos. Seu advogado reforça essa versão, justificando a comanda em seu nome com a alegação de que ele apenas pagou a conta dos amigos.
Como a única comanda em seu nome mostra uísque com energético, sua versão pressupõe que ele foi ao bar apenas para sentar na mesa com os amigos e pagar a conta deles, sem beber sequer um copo de água em todo o tempo que permaneceu no estabelecimento.
Isabela: Ela e Guilherme tomavam cerveja, enquanto José Maria bebeu uísque com energético. Como a comanda de José Maria mostra apenas uísque com energético; a cerveja estaria então em outra comanda. E se José Maria “pagou a conta” dos dois amigos, como afirma seu advogado, então ele pediu para abrir uma nova comanda apenas com o uísque e energético. Ou foi ele mesmo quem ingeriu essa combinação, que é justamente o que alega Isabela.
Guilherme: Disse em depoimento que José Maria pediu para si a dose de uísque com energético. E ainda pediu um “chorinho” ao garçom (uma quantidade adicional de bebida alcoólica no coquetel).
Saindo do bar
José Maria: não comentou na entrevista o objetivo do deslocamento ou se foi direto para casa.
Isabela: Saindo do Zé da Praia, tentaram entrar em outro estabelecimento, “O Pasquim Bar”. Ficaram na fila de espera, mas não foram chamados a tempo, porque os bares da região fecham às 23h. Pegaram carona com José Maria porque ele iria deixá-los na estação de Metrô Vila Madalena.
Guilherme: Estavam os três no carro à procura de outro bar quando o atropelamento aconteceu.
Morte e fuga
José Maria: Nem ele e nem as outras pessoas no carro entenderam o que havia acontecido, achando que poderia ser uma tentativa de roubo. Não imaginaram que uma pessoa pudesse estar machucada. Ao mesmo tempo, afirma que havia “mais gente lá”, com mais condições de socorrê-la, e que deixou que “essas pessoas pudesse socorrer essa pessoa (sic)”, por isso fugiu.
Mas se ele não percebeu que atropelou alguém, se achou que era um assalto e se evadiu porque “teria que preservar pela sua vida”, como conseguiu ver que havia mais gente no local onde a cicloativista foi atropelada? Ele diz que conseguiu ver até que essas pessoas tinham “mais condições” de socorrê-la. Mas… Socorrer quem, se ele não viu ninguém? Socorrer de quê, se não percebeu que se tratava de um atropelamento?
Isabela: “Sentiram uma forte pancada no veículo” e todos ficaram muito assustados, “sem entender o ocorrido”. O corpo de Marina bateu no para-brisa, bem à sua frente. O vidro ficou quebrado e afundado com o formato da pancada. Ainda assim, a mulher que estava sentada ao lado do motorista nega ter visto o momento do atropelamento, dizendo estar no celular nesse momento.
Ela também afirma que “a via estava bem escura”, o que contradiz a policial que prestou os primeiros socorros à ciclista, que declarou: “era uma via super iluminada, com certeza ele viu a Marina, não tinha como não ver a Marina”. Nesse momento, José Maria partiu em alta velocidade em direção a sua residência.
Guilherme: Diz não ter visto o momento exato do atropelamento, porque estava no banco de trás. Mas que José Maria estava em alta velocidade e dirigiu ainda mais rápido para fugir do local do crime, omitindo socorro à ciclista.
Chegando em casa
Imagens do estacionamento mostram três pessoas descendo do carro. José Maria parece andar com alguma dificuldade, talvez cambaleando. O carro foi estacionado com a frente para a parede, para esconder os danos. A câmera do elevador do prédio mostra José Maria sorrindo ao lado de Isabela.
Meia hora depois, ambos voltam ao estacionamento; Isabela usa um lenço e um cobertor, aparentemente se ocultando das câmeras, para pegar algo no carro, enquanto ele aguarda no portão. O gerente do estacionamento afirma que ela tirou do carro uma garrafa de vinho.
José Maria: Estava “espontâneo” (sorrindo) no elevador para acalmar Isabela. Não havia garrafa de bebida no carro: “eu peguei uma garrafa depois, dentro do apartamento”.
Isabela: Diz que “estava frio na ocasião e que pegou um cobertor” (curiosamente, José Maria não aparentava nas imagens sentir o mesmo frio). Ficou pouco tempo no apartamento, pois teria subido apenas para ir ao banheiro. Desceu para pegar um carregador, que teria ficado no carro.
Guilherme: Ainda não foram veiculadas informações sobre sua versão desse momento.
Sumiço
José Maria: Teria saído do apartamento às pressas, de acordo com a Polícia, em algum momento entre domingo e terça de manhã. Quando os policiais entraram em seu apartamento, na manhã de terça-feira 10 de novembro, móveis e objetos estavam “bagunçados e com sinais de abandono repentino”. O relatório policial ainda apontou que uma sacola com maconha foi encontrada em cima da mesa e apreendida.
Isabela: Diz ter ficado pouco tempo no apartamento, apenas para usar o banheiro. Supostamente deixou o local após retirar o “carregador” do carro. Guilherme chamou um Uber assim que chegou ao estacionamento e, dali, já foi embora para sua casa.
Guilherme: Ainda não foram veiculadas informações sobre sua versão desse momento.
Quais pontos seriam verdade nessas declarações? O que estariam escondendo? Deixe sua opinião aqui nos comentários.
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