Também somos trânsito - Foto: Luddista

O que a cidade mais precisa é de vergonha na cara

Respeito ao direito de circulação dos ciclistas nas ruas e respeito às suas vidas é muito mais importante que construir ciclovias aqui e ali sem um plano cicloviário que integre toda a cidade.

Também somos trânsito! Foto:Luddista

Respeito ao direito de circulação dos ciclistas nas ruas e respeito às suas vidas é muito mais importante que construir ciclovias aqui e ali sem um plano cicloviário que integre toda a cidade, tratando a bicicleta como parte da regra e não como exceção.

Ciclovias são importantes, claro. Mas em vias de tráfego rápido, tais como definidas pelo Código de Trânsito (vias sem esquinas e cruzamentos, com acessos por pistas de aceleração). Nas demais, o que precisamos é de respeito e de entendimento de que a bicicleta é mais um veículo dentre os que utilizam as ruas. Não uma aberração que precisa de um cercadinho.

Direitos

Fala-se muito sobre o “direito de ir e vir” dos motoristas, havendo sempre grande repercussão (e repressão) a qualquer circunstância que restrinja ou dificulte exercer esse direito. Mesmo que seja uma situação temporária, mesmo que haja caminho alternativo. Mas pouco se diz, muito menos se faz, quando esse mesmo direito é desrespeitado (ou mesmo negado) se o prejudicado é quem usa a bicicleta.

O Código Brasileiro de Trânsito prima pela segurança viária e a proteção à vida das pessoas que circulam nas ruas, estejam dentro, fora ou em cima dos veículos. Se a lei fosse respeitada e quem a ignora fosse punido com rigidez, não seria necessário segregar o ciclista em pistas exclusivas, com poucos acessos e com cruzamentos que o colocam em risco ou dificultam sua passagem.

Se o poder público não faz, as pessoas se cansam e fazem sozinhas. Foto: Cabelo

Alternativas

Existem iniciativas de baixo custo que teriam resultados muito melhores do que uma ciclovia aqui e outra ali, incentivando o uso da bicicleta e protegendo os ciclistas. Só é preciso que o poder público tome coragem de reconhecer oficialmente a presença da bicicleta nas ruas, sendo parte do trânsito como os demais veículos.

O que a cidade mais precisa não são ciclovias. Precisamos é que os órgãos de trânsito passem a atender as necessidades de todos os veículos que fluem pelas ruas, não só as dos automóveis.

Fazer vista grossa para os direitos dos ciclistas só faz com que as pessoas que circulam nos carros continuem nos tratando como invasores, sem aceitar o compartilhamento do espaço viário. Continuarão colocando nossas vidas em risco para tentar nos “educar” a sair da rua, tentando nos convencer a abrir mão de nosso direito de circulação em função de uma suposta melhora na sagrada “fluidez”.

Cansados de tanto esperar pela sinalização e o respeito que nunca vêm, os cidadãos acabam por tentar resolver o problema por si. Na última sexta-feira, ciclistas pintaram sinalização de solo na Av. Paulista (mais uma vez). Os pictogramas indicam aos motoristas que por ali circulam bicicletas, além de sinalizar ao ciclista a faixa mais indicada para sua circulação.

Sinalização de solo na segunda faixa da Av. Paulista. Cidadãos tendo que fazer (novamente!) o trabalho que o poder público já deveria ter feito há anos.

O que diz a lei

Do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
(…)
II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas.

O CTB é bem claro. Não é fingindo que não se tem responsabilidade pela segurança dos ciclistas que órgãos de trânsito e prefeituras se eximem dela. Fechar os olhos não faz o problema sumir. Só agravar.

Sinalizar a presença de ciclistas nas ruas, indicar os melhores caminhos para as bicicletas e fazer uma campanha maciça de conscientização de motoristas, seguida de punições rígidas para quem atenta contra a vida por detrás de um volante, são caminhos para se chegar a uma convivência mais humana.

Ignorar que os ciclistas existem e que têm direitos nas ruas só faz com que os maus motoristas façam exatamente o mesmo. Já passou da hora de parar com esse mau exemplo.

7 comentários em “O que a cidade mais precisa é de vergonha na cara

  1. Infelismente nesta cidade e em todo país precisamos de cercadinho pois o noos povo não se acostumou c/ educação no trânsito e nem em lugar nenhum., de outro modo estaremos arriscando nossas vidas, pois os piores são os onibus e vans q não respeitam os ciclistas.

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  2. Excelente Willian! É fazendo uso de nossos direitos que vamos conseguir chegar aonde queremos. Acho importante mencionar que o ciclista também tem que entender quais são seus direitos e deveres e também compreender quais são os riscos de desrespeitá-los. Se você fica pedalando espremido no meio-fio, não somente você está colocando sua vida em risco como também está demonstrando aos motoristas (mesmo que indiretamente), que você não deveria estar ali. Isso é só um exemplo como muitos outros que vejo dia após dia em São Paulo.

    Willian, vejo que você também sempre tenta educar os ciclistas, colocando trechos da legislação e etc. Fica minha sugestão também para um artigo específico de como se portar em diversas situações no trânsito caótico de São Paulo.

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  3. o movebike acredita que as prefeituras deveriam realizar uma série de intervenções na cidade. Desde planejamento de rotas a instalações básicas para dar conforto e praticidade ao ciclista da cada cidade deste país.

    abs

    movebike

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