Ciclovia removida há um mês segue sem previsão de reimplantação em São Paulo

Enquanto órgãos públicos empurram a responsabilidade pela repintura, cidadãos continuam sendo expostos a risco de atropelamento no local.

Bicicletinhas pintadas sobre o asfalto recente deixam a mensagem: a remoção dessa ciclovia não cairá no esquecimento.
Bicicletinhas pintadas sobre o asfalto recente deixam a mensagem: a remoção dessa ciclovia não cairá no esquecimento.

Em março, uma ciclofaixa foi silenciosamente removida em São Paulo, em uma ação que, depois de descoberta e exposta, foi justificada como “manutenção” pela Prefeitura. Passado quase um mês, a sinalização de solo ainda não foi refeita – e não há previsão para que a estrutura seja repintada.

A estrutura ficava na rua Dr. Fausto de Almeida Prado Penteado e continuava pela Av. Amarílis, no Morumbi, Zona Sul da cidade. Tratada internamente como parte da operação tapa-buraco, a ação recapeou apenas a parte da rua que continha a ciclovia, ao longo de cerca de 1 km de extensão, com retirada de sinalização horizontal (placas) e também de tachões, fazendo com que a ciclovia sumisse completamente.

Após exposição da situação, a Prefeitura Regional do Butantã alegou se tratar de “serviços de manutenção do pavimento” (veja aqui). E afirmou que “as placas indicativas foram retiradas para limpeza, pois estavam pichadas”. A retirada incluiu os posts de sustentação, que estavam fixados à calçada. No dia seguinte, as placas foram reinstaladas, mas não há previsão para reimplantação da sinalização de solo (pintura, pictogramas, faixas, tachões e olhos de gato).

Foto: Daniel Poeta Pereira
Foto: Daniel Poeta Pereira

Não há prazo e nem competência clara

A quem compete repintar a ciclovia? Inquirida à época do imbróglio, a Regional Butantã informou ao Vá de Bike que a sinalização de solo seria de competência da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Entretanto, consultada pela nossa redação na última quinta-feira, a CET informou que, como o serviço foi realizado pela Regional, o órgão está em “tratativas para a repintura”.

Em resumo: enquanto a Prefeitura Regional diz que o problema é da CET e esta tenta convencer a Regional a assumir a repintura, a ciclovia continua apagada e os cidadãos seguem expostos na via. Se esse empurra-empurra durar meses, a ciclovia cai no esquecimento do poder público. Uma ótima maneira de remover as estruturas sem grandes repercussões da opinião pública – afinal, se em tese em algum momento serão recolocadas, não haveria motivo para reclamar de sua retirada…

Os carros que sobem a via ocupam o espaço anteriormente destinado às bicicletas, o que representa um grave risco a quem desce de bicicleta no contrafluxo. A faixa desaparece de repente embaixo do asfalto novo, com automóveis subindo de frente para os cidadãos desavisados que descem o local em bicicleta, uma situação de risco evidente que precisaria ao menos de uma solução paliativa, como cones segregando o espaço e faixas informando motoristas sobre a presença de pessoas circulando de bicicleta no contrafluxo.

Nos últimos dias, cidadãos pintaram bicicletinhas sobre o asfalto recente, lembrando ao poder público que não esqueceremos essa remoção e continuaremos cobrando a volta dessa ciclovia.

Outra ciclovia apagada já está sendo sinalizada

Já na avenida Torres de Oliveira, ao lado da USP (área sob responsabilidade da Prefeitura Regional da Lapa), a sinalização de solo começou a ser refeita. Nessa via, a estrutura foi coberta por um recapeamento total da avenida, em ação anterior à do Morumbi. De acordo com a CET, deve estar pronta em 15 dias.

Na Avenida Torres de Oliveira, sinalização de solo já começa a ser refeita. Previsão da CET é de 15 dias. Foto: Daniel Poeta Pereira
Na Avenida Torres de Oliveira, sinalização de solo já começa a ser refeita. Previsão da CET é de 15 dias para a conclusão dos trabalhos. Foto: Daniel Poeta Pereira
Enquanto isso, no Morumbi, quem desce a ciclovia dá de frente com carros subindo a rua.
Enquanto isso, no Morumbi, quem desce a ciclovia dá de frente com carros subindo a rua.

Resposta da CET

A CET informa que a ciclovia da avenida Torres de Oliveira, no Jaguaré, passou por um recapeamento após obras de um Pólo Gerador que está em construção naquela área. A obra foi necessária para o aterramento de dutos. Com isso, parte da ciclovia existente foi alterada temporariamente. Após o término dos trabalhos, o projeto de repintura já está em fase de conclusão e será entregue para que o Pólo Gerador realize o trabalho em até 15 dias.

Já as ciclovias da rua Doutor Fausto de Almeida Prado Penteado e da avenida Amarílis receberam serviços de manutenção do pavimento, como operação tapa-buraco e nivelamento de piso. Esse serviço foi realizado pela Prefeitura Regional do Butantã, com quem a CET mantém tratativas para a repintura das ciclovias.

7 comentários em “Ciclovia removida há um mês segue sem previsão de reimplantação em São Paulo

  1. Coincidência ou não, eu fui um dos que solicitei a manutenção da Av. Torres de Oliveira, onde reclamava sobre depressões, irregularidades da ciclovia, e o matagal todo que impedia o trânsito de bicicleta na ciclovia. Hoje tenho satisfação de dizer que as faixas foram pintadas novamente com aquele aspecto de que foi implantada pela primeira vez.
    É um grande contraste entre a ciclovia do Morumbi, e, a da Av. Torre de Oliveira, perto da USP. A diferença que vejo é que há pessoas que querem a remoção e as que querem que fique. E nesse balanço de quantas pessoas, e, quem são essas pessoas acabam determinando a sua remoção. Além disto, a forma como foi implantada em primeiro lugar diferem: enquanto a do Morumbi ela está no lado da calçada, e, portanto podendo incomodar moradores, o da Torres de Oliveira, é feita ao lado do canteiro central, que praticamente não incomoda os moradores e empresas.
    Creio que há critério para remoção, justamente para as ciclovias mal implantadas. Tem uma destas perto de casa, estou atento ao destino dela, apesar de continuamente chamar a CET e o SP156 para manutenção dela.

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  2. Boa noite! Sou aluna do 3° ano de Engenharia Agronômica na ESALQ-USP e faço parte de um grupo de estudos chamado PET- Biotecnologia Agrícola. Atualmente estamos com planos de realizar um evento TEDx na cidade e gostaríamos de convidá-lo para ser um de nossos palestrantes, abordando o tema de mobilidade sustentável, para falar sobre o Vá de bike. Infelizmente não estou conseguindo fazer contato com o senhor de outras formas. Aguardo retorno, obrigada!

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  3. Se não fiscalizar devagarinho acabam com a unica obra decente do Haddad.
    Lembrando que pelo Doria todas as ciclovias seriam retiradas.

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    1. E a fiscalização não pode ficar somente para prefeitura, os principais interessados, os ciclistas tem que fiscalizar e solicitando a CET e ao SP156 para a manutenção das ciclivias que utilizam.

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  4. Faça o favor, tenham vergonha na cara nessa mentalidade carrocrata….

    Isso ai tem que ser exposto ao mundo, para mostrar a merda que é essa cidade. Levar para a imprensa internacional e mostrar que a nova gestão paulistana é retrogada e voltou a ideia de mobilidade só para motorizados.

    Queria ver a vergonha de sair uma reportagem nos Jornais americanos The New York Times que elogiou os feitos do Haddad na area de mobilidade ativa e prioridade ao transporte publico…contra uma gestão sem foco algum.

    Corrigir, arrumar e mostrar qualidade que é bom nada. É mais facil tentar tirar na surdina…é a politica de mais vias para mais carros!

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    1. Boa Renato, se conhecer algum grupo de ciclistas urbanos, como a de NY, que tem uma visibilidade na mídia, como na The New York Times, pode travar uma conversa para fazerem um relatório ou estudo de mobilidade mundial. Comparações com outros países, como de Chile, Bolívia, seriam interessantes. Soube que há/houves estes problemas em NY, um estudo sobre como resolveram/assentaram isto é muito interessante, talvez ajude a estabelecer estratégias para fomentar as ciclovias, e contra-atacart.

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