Centenas de ciclistas barrados em tentativa de descida coletiva a Santos
Veja como foi a primeira tentativa coletiva de descida de São Paulo a Santos em bicicleta, com centenas de ciclistas. Ecovias, com apoio da Polícia Rodoviária, negaram o direito de passagem, contrariando o disposto em lei.
Ciclistas saindo de São Paulo, rumo à Rodovia dos Imigrantes Foto: Rodrigo Navarro |
Em 6 de dezembro de 2008, centenas de ciclistas combinaram uma descida coletiva de São Paulo a Santos pela rodovia dos Imigrantes através de listas de e-mails, blogs e redes sociais.
A intenção era utilizar a estrada de manutenção, para não precisar utilizar os trechos de túneis sem acostamento, exercendo o direito de circulação de bicicletas em estradas, garantido pelo Código de Trânsito Brasileiro desde 1997.
A Ecovias (que de Eco só tem o nome, já que só permite veículos poluentes utilizarem suas estradas) solicitou à Polícia Rodoviária que impedisse a descida. Isso fere o art. 58 do cód. de trânsito.
A desculpa dada é que a estrada não oferece condições de segurança para bicicletas. Isso fere o art. 21. do código de trânsito, principalmente por já terem reformado a via tantas vezes e construído novas pistas.
Centenas de bicicletas em direção ao litoral, sob a vigilância da Polícia Rodoviária. Foto: Rodrigo Navarro |
Centenas de bicicletas se dirigiam ao litoral. Pacificamente.
Houve bloqueios da Polícia Rodoviária. Algumas pessoas foram ficando nos bloqueios, outras contornaram pacificamente, aos poucos, e continuaram, como a água escorrendo por frestas de uma pedra.
Novos bloqueios. Mais pessoas ficando para conversar com os policiais, outros passando.
Não havia base legal para segurar os ciclistas. O art. 58 do cód. de trânsito permitia sua passagem. A Artesp (responsável pela fiscalização dos serviços prestados pelas concessionárias de rodovias) havia informado através de sua ouvidoria que o tráfego de bicicletas é permitido na Imigrantes (protocolo 104711). Mesmo assim eles foram sendo barrados. Alguns foram ficando com o saco cheio das arbitrariedades e foram voltando para casa.
O argumento utilizado pela polícia para impedir a descida era que por volta do km 40 há uma placa de proibido bicicletas (R-12). Também utilizaram como argumento uma legislação de 1950, que foi substituída pelo CTB. Ou seja, não havia base legal para impedir a descida, mas como convencer um policial disso, principalmente se ele tem suas ordens a cumprir?
E, mesmo que a placa fosse um argumento sólido para impedir a passagem das bicicletas (quem manda é a placa ou é a lei?), não havia base legal para impedir a passagem das bicicletas até o km 40, já que elas trafegavam pelo acostamento como manda a lei.
A Polícia Rodoviária considerou importante deslocar um grande efetivo para impedir que os ciclistas usufruissem da rodovia Foto: Macaco Véio |
A Ecovias e a Polícia Rodoviária divulgaram informações aos órgãos de imprensa ao longo do dia, dizendo que os ciclistas é quem estavam causando lentidão no tráfego na estrada (como, se utilizavam o acostamento?) e que 40 pessoas haviam sido detidas. Só se estavam se referindo às pessoas impedidas de descer, porque ninguém foi realmente “detido” (levado para uma delegacia ou coisa que o valha).
A Ecovias erra em não fornecer segurança para que a descida possa ser feita a pé ou de bicicleta. A Ecovias age contra a lei quando impede a passagem das bicicletas e dos pedestres.
Renata Falzoni, cicloativista “das antigas”, também estava lá, lutando por nossos direitos e documentando o ocorrido com sua inseparável câmera Foto: Rodrigo Navarro |
E, principalmente, a Ecovias perdeu uma excelente oportunidade de se pintar de verde. Se tivessem feito uma escolta e permitido a passagem, com o discurso que assim que possível tornariam a via segura também para as bicicletas, teriam ganho muito em imagem.
Impedindo as bicicletas de trafegar e permitindo apenas veículos a motor, permanece a impressão de que a Ecovias é “dona” da estrada (em vez de ter uma concessão da estrada pública) e que só deixa passar quem é economicamente viável. Se os ciclistas voltassem e pegassem um carro, que paga pedágio, poderiam passar. Se voltassem e embarcassem em um ônibus, que paga pedágio, poderiam passar. Se pudesse, a Ecovias proibiria até as motos.
Quinze dias antes, a Bicicletada foi até Ubatuba. Um caminho bem mais longo, passando por duas estradas diferentes, sem problema algum no caminho. Pelo contrário, a Polícia Rodoviária até nos escoltou para nos ajudar em um trecho onde a rodovia tinha muitas saídas… Sempre que passávamos por eles, nos cumprimentavam com um sorriso e incentivavam nossa viagem. Não tivemos nenhum problema.
Mas a Polícia Rodoviária da Imigrantes não permitiu a passagem das bicicletas.
Relatos de participantes dão conta de que teria havido uma liberação oficial no final da tarde, que beneficiaria os últimos resistentes que se recusavam a voltar. Entretanto, por uma decisão pessoal do oficial responsável pela ação no momento, a liberação não teria sido levada a termo. Mais informações assim que os relatos começarem a pipocar pelos blogs dos participantes e apoiadores. Muitos fizeram relatos em vídeo, inclusive a Renata Falzoni. Aguarde novidades.
A massa foi impedida de descer. Dessa vez. Os ciclistas continuarão tentando exercer seu direito. A lei permite a descida e a Ecovias tem obrigação legal de permiti-la e torná-la segura, seja um evento com 400 ciclistas ou um viajante solitário. As bicicletas passarão.
Repercussão na mídia
Saiba Mais | ||
Só quatro ciclistas conseguiram completar “bicicletada” até Santos, O Globo A matéria com a maior correção dentre todas publicadas. Segundo essa matéria, a justificativa da polícia é que a descida era um “evento” e por isso precisava de comunicação prévia. Então evento pode, mas descer sozinho não. Mesmo a lei permitindo. Matéria na TV Record Grupo de ciclistas desce a Imigrantes e mobiliza polícia, G1 | BOL, UOL (Maplink), Folha A mesma notícia saiu em vários lugares, com as informações fornecidas pela dona da estrada Ecovias e pela Policia Rodoviária de que os ciclistas é que causavam lentidão na Imigrantes e de que 40 pessoas haviam sido detidas. Na realidade ninguém foi detido e os ciclistas estavam todos no acostamento, não sendo responsáveis pela lentidão. Grupo de ciclistas tenta descer a serra e causa lentidão de 16 km na Imigrantes, O Globo Lentidão causada por ciclistas e curiosos sobe para 16 km na Imigrantes, O Globo |
E, apesar de tudo, a Bicicletada chegou na praia Foto: Macaco Véio |
Relatos, fotos e vídeos
Saiba o que aconteceu pela ótica de quem estava lá
Aninha: Relato com fotos André: Relato com fotos Bruno Gola: Fotos Mais relatos, fotos e vídeos na página oficial. | Rodrigo Navarro: Fotos Se Locomovendo na Selva de Pedra: Vídeos Macaco Véio: Fotos |
A placa prevalece sobre a lei. O CTB diz, essencialmente, que deve ser feito o que a lei manda, a não ser que haja uma placa indicando que deve ser feita outra coisa. Exemplo: o CTB diz que, em avenidas, a velocidade máxima permitida é de 60 km/h. Mas, se houver uma placa indicando que ele é de 40 km/h, o limite é de 40.
…por mais que eu adore andar de bicicleta, também não dá pra sair desobedecendo a sinalização sem mais nem menos. Com que cara ficam os ciclistas quando exigem que os automóveis mantenham a distância mínima, quando eles (ciclistas) não param no sinal vermelho?
Desobediência civil (desobedecer a lei para se fazer valer um direito) é algo que só se faz quando os meios democráticos não funcionam. Vocês já procuraram o Ministério Público para pedir que proponha uma ação civil pública para exigir que a Ecovias adapte a estrada para ciclistas, ou já pensaram em criar uma associação para esse fim?
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Ola, boa tarde. Estou indignado com o desrrespeito ao ciclista brasileiro, estamos sendo empedidos de trafegar livremente, seja de bicicleta ou patins ou skate.
Precisamos nos unir e fazer um abaixo assinado para exigirmos poder ir dar a volta no país de bicicleta se quisermos.
Obrigado
Gerson
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Coloquei um link pro seu site na página da Interplanetária.
Abraços
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Adorei o seu também!!!!! Bjs
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Sacanagem
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