Trecho novo no Butantã aumentou a Ciclofaixa de Lazer em 6 km. Mas a extensão total diminuiu, em razão de duas desativações. Foto: Willian Cruz/VdB

Ciclofaixa de Lazer de São Paulo diminuiu, apesar de trecho novo no Butantã

Mesmo com a recente expansão na Zona Oeste, dois trechos removidos fizeram a Ciclofaixa de Lazer de São Paulo diminuir em extensão total

A Ciclofaixa de Lazer de São Paulo ganhou recentemente um novo trecho, no bairro do Butantã. Mas uma apuração exclusiva do Vá de Bike mostrou que a aparente expansão da estrutura foi, na verdade, uma redução na extensão total.

Veja a explicação nesse vídeo ou leia nossa reportagem logo abaixo.

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Expansão ou redução?

A Ciclofaixa de Lazer é uma ciclovia operacional com cerca de 100km. Quando ativa, uma ou mais faixas de diversas ruas e avenidas são segregadas com cones, criando um ambiente protegido para os ciclistas. A estrutura é operada em São Paulo pela empresa Uber, aos domingos e feriados nacionais, das 7h às 16h.

Em dezembro último, a cidade recebeu um novo trecho no Butantã, Zona Oeste da capital, com cerca de 6 quilômetros. Contudo, o que parecia ser um acréscimo ao espaço de lazer acabou sendo, na prática, uma diminuição da quilometragem total disponível aos ciclistas.

Isso porque, para acrescentar esse trecho, outros dois foram removidos. E a soma desses trechos representa mais quilômetros desativados do que adicionados.

Uma das pontas do novo trecho, em frente ao Metrô Butantã: alta utilização. Foto: Willian Cruz/VdB

Trecho novo no Butantã

O trecho novo da Ciclofaixa de Lazer começa no Metrô Butantã e segue pelas avenidas Vital Brasil e Corifeu de Azevedo Marques até a Praça Elis Regina. A Rua Alvarenga também foi contemplada, fazendo a conexão com o restante da estrutura.

Juntos, esses trechos somam cerca de 6 km – contando ida e volta, que é a forma como medem oficialmente a Ciclofaixa de Lazer.

Aqui no Vá de Bike você encontra o mapa da Ciclofaixa de Lazer de São Paulo, completo e atualizado, considerando tanto o trajeto novo do Butantã quanto a remoção de alguns outros trechos.

O mapa mostra também algumas ciclovias e ciclofaixas permanentes, que podem servir como ligação entre os diversos trechos da estrutura montada aos domingos. Assim você consegue cortar caminho se precisar, usando essas estruturas de proteção aos ciclistas.

Prefeito Ricardo Nunes pedalou na inauguração

A inauguração do trecho Butantã, em 19 de dezembro, contou com a presença do Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). O Secretário de Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira, também esteve presente. Ambos pedalaram pela Ciclofaixa de Lazer em bicicletas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), como você pode ver em vídeo.

No entanto, apesar do clima de festa na cerimônia de inauguração, o trecho novo não foi bem uma expansão, mas uma realocação: retiraram um trecho de um lugar para colocar em outro.

Além disso, a quilometragem removida superou a do percurso acrescentado, somando mais que o dobro daqueles 6 km. Por isso, na prática a ciclofaixa que opera aos domingos diminuiu de tamanho. E essa diferença de quilometragem precisa ser reposta.

Ricardo Nunes pedalou na inauguração (de camiseta e capacete pretos). À direita, o Secretário de Mobilidade e Trânsito, Ricardo Teixeira (camiseta branca). Foto: Simone Penninck/Bike Zona Oeste

Dois trechos removidos

Ao anunciar essa expansão na Zona Oeste, a Prefeitura avisou no site que desativaria, ao mesmo tempo, um trecho na Zona Sul. Mas além desse trecho, outro foi retirado sem aviso algum.

Av. Roberto Marinho

O trecho que a Prefeitura anunciou que seria retirado ficava na Av. Roberto Marinho, ligando a Av. Berrini ao Parque do Chuvisco. A justificativa foi de que a ciclofaixa permanente daquela via já atende a demanda existente aos domingos. O que faz sentido.

Porém o trecho removido tinha 9 km (contando ida e volta), enquanto o trecho novo recebeu apenas 6 km. Com isso, já teríamos aqui um saldo de 3 km, que precisaria ser reposto em algum lugar.

Estrutura permanente na Av. Roberto Marinho. Foto: Google Street View/Reprodução

Av. Berrini

Além de desativar o trajeto da Av. Roberto Marinho, a Prefeitura removeu outro trecho, na Avenida Berrini, reduzindo a Ciclofaixa de Lazer em mais 4 km. Ao contrário da Roberto Marinho, essa desativação foi feita sem aviso.

Em 16 de janeiro, quando a reportagem do Vá de Bike visitou o local, fomos surpreendidos pela ausência de cones e bandeirinhas. Vários ciclistas nos confirmaram que a estrutura havia “sumido” desde o dia em que o trecho novo foi inaugurado.

Em uma análise isenta e técnica, não há problema em se desativar o trecho da Av. Berrini. Isso porque a ciclovia de canteiro central realmente atende a demanda dos domingos, como pudemos comprovar.

O problema é que não avisaram a população e não repuseram essa quilometragem. A Ciclofaixa de Lazer simplesmente sumiu de um final de semana para o outro, tendo sua extensão total reduzida sem que ninguém soubesse.

Na Av. Berrini, a estrutura de canteiro central atende a demanda dos domingos e protege os ciclistas. Foto: Willian Cruz/VdB

Saldo a repor

A desativação na Av. Roberto Marinho significou uma diminuição de 9 km na estrutura operacional de lazer da cidade. Já na Av. Berrini, a redução foi de 4 km. Com isso, foram 13 os quilômetros subtraídos.

Por outro lado, na região do Butantã foram acrescentados 6 km de segregação com cones aos domingos. Como resultado, a cidade de São Paulo perdeu 7 quilômetros de Ciclofaixa de Lazer.

Apesar de uma das desativações ter sido anunciada, nem a Prefeitura e nem a Uber divulgaram que a extensão total havia diminuído. Muito menos se comprometera a repor. Pelo contrário, a divulgação foi feita como se a cidade ganhasse mais espaço de lazer, em vez de tê-lo subtraído.

Fica a impressão de que a intenção era de que a redução passasse despercebida e caísse no esquecimento.

Ciclofaixa de Lazer em janeiro/22. Em verde (esq), o trecho novo no Butantã; no pontilhado vermelho, os trajetos removidos. A desproporcionalidade é visível. O mapa atualizado encontra-se aqui. (Arte VdB sobre imagem Google Maps)

Onde recolocar o que foi removido

Apesar de parecerem uma perda, essas remoções podem ser revertidas mudanças positivas na estrutura de lazer. Com os 7 km que foram reduzidos, pode-se criar conexões extremamente úteis em outras áreas da cidade.

Os ciclistas que participam da Câmara Temática da Bicicleta enviaram oficialmente, no início de dezembro, nove sugestões para expansão da Ciclofaixa de Lazer. Elas foram formalizadas em um ofício ao Secretário de Mobilidade e Transportes, Ricardo Teixeira, e ao Presidente da CET, Jair de Souza Dias, entre outras pessoas.

A seguir comentamos uma delas, que nos chamou bastante atenção.

A Câmara Temática da Bicicleta é um espaço participativo onde ocorrem reuniões oficiais entre representantes dos ciclistas e do poder público municipal, para falar sobre mobilidade por bicicleta. Os encontros, agora virtuais, ocorrem uma vez ao mês.

Conectando o Leste ao Centro

Uma das sugestões seria conectar o trecho Leste da Ciclofaixa de Lazer, na região de Itaquera, com o restante da estrutura. Com isso, seria criada uma conexão esperada há muitos anos – ainda que nesse momento venha a operar apenas aos domingos.

À primeira vista, pode parecer necessário ativar dezenas de quilômetros a mais todos os finais de semana. Mas a sugestão apontada no ofício é bem mais simples e não demanda tamanho investimento.

Ciclovia da Radial Leste

A Ciclofaixa de Lazer da Zona Leste tem conexão com a Ciclovia da Radial Leste (Ciclovia Caminho Verde). Como essa estrutura termina no Metrô Tatuapé, a proposta dos ciclistas é conectar essa ponta da ciclovia com o centro da cidade.

Os ciclistas poderiam então passar da Ciclofaixa de Lazer para a estrutura permanente, seguindo até o Tatuapé. De lá, um novo trecho da Ciclofaixa de Lazer permitiria chegar até a estrutura cicloviária permanente do centro da cidade.

A conexão poderia ser, por exemplo, pelo Viaduto Vinte de Cinco de Março, que possui ciclofaixa permanente. Ela leva até a Praça da Sé, onde há tanto estruturas permanentes quanto a própria Ciclofaixa de Lazer aos domingos.

Ciclovia da Radial Leste termina no Metrô Tatuapé. Ligação com o centro é prometida desde a inauguração, em 2008. Foto: Willian Cruz/VdB

Esse trecho teria cerca de 11 km de extensão, contando ida e volta. Um pouco mais que os sete que precisam ser repostos.

Mas a cidade e os ciclistas merecem ganhar uns poucos quilômetros a mais na estrutura de lazer aos domingos. Ainda mais considerando que nada foi comunicado sobre essa redução de 7 km, talvez na esperança de que ficasse no esquecimento.

Imagem: Google Maps/CTB

Outras sugestões

Se a conexão da Radial Leste parece exceder a quilometragem que a cidade tem de “saldo”, há outras soluções. O ofício enviado pelos ciclistas tem nove propostas, algumas delas bem menores do que esses 7 quilômetros.

Um exemplo é a ativação sugerida para a Ponte do Jaguaré, na Zona Oeste. Com isso, seriam conectadas as ciclovias do bairro com as do centro expandido. Uma ligação importantíssima, que permitiria não apenas o lazer, mas a proteção aos ciclistas que precisam cruzar o Rio Pinheiros. Ao menos aos domingos.

Imagem: Google Maps/CTB

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O Vá de Bike continuará informando sobre mudanças na Ciclofaixa de Lazer de São Paulo e sobre a ciclomobilidade no Brasil e no mundo.

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