COP28: Vá de Bike assina carta por inclusão da mobilidade ativa nas discussões
Conferência precisa considerar bicicleta e caminhada na redução de emissões e enfrentamento da crise climática. Mobilidade ativa vem sendo ignorada nas COPs
Com a proximidade da COP28, o Vá de Bike se une a organizações globais voltadas para a mobilidade sustentável, reforçando a importância da inclusão de formas ativas de deslocamento nas discussões. Em consonância com entidades de todo o mundo, foi elaborada uma carta de demandas direcionada aos governos e cidades participantes, na esperança de evitar a repetição do cenário de exclusão da mobilidade ativa visto nos últimos anos.
Em 2021, a declaração final ignorou bicicleta e transportes coletivos, apontando um futuro onde será preciso comprar um carro elétrico para se locomover. Em 2022, a mobilidade ativa foi tema em eventos paralelos oficiais, mas não foi sequer mencionada nos principais – mesmo com a pressão de mais de 400 entidades de 73 países.
A COP28 inicia em 30 de novembro de 2023 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, com atividades, reuniões e debates programados até 12 de dezembro. A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) tem como propósito discutir soluções para as mudanças climáticas. E o Vá de Bike reforça seu comprometimento com a promoção de deslocamentos sustentáveis como parte importante nesse caminho.
Carta Global pela Mobilidade Ativa na COP28
Uma coalizão mundial de entidades ligadas à mobilidade ativa e sustentável, a Parceria para Viagens Ativas e Saúde (PATH), elaborou a carta que insta os governantes a incluir o ciclismo e o pedestrianismo nas discussões da COP28. A PATH é coordenada por Walk21, Federação Europeia de Ciclistas (ECF) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), sendo financiada pela FIA Foundation.
Até o fechamento desta matéria, 81 instituições, incluindo o Vá de Bike, já subscreveram a carta, demonstrando o amplo apoio à causa. Espera-se que esse número cresça nos próximos dias, evidenciando a urgência e a relevância dessa pauta.
Mobilidade Ativa contribui para alcançar metas climáticas
O texto da carta destaca a importância das viagens ativas na redução das emissões globais de carbono. Substituir deslocamentos motorizados por caminhadas e uso da bicicleta é uma solução acessível e eficaz para alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas.
Segundo a carta, “permitir que mais pessoas caminhem e pedalem com segurança é crucial para descarbonizar os transportes”, sendo essa uma maneira “rápida, acessível e confiável de ajudar a reduzir as emissões dos transportes em até 50%”.
Esse enfoque não apenas contribui para as metas climáticas, mas também promove a melhora na saúde da população, além de tornar as cidades mais seguras, acessíveis, igualitárias e com economia vibrante.
Relatório faz alertas e aponta caminhos
A PATH divulgou um relatório complementar à carta, com números e recomendações importantes. O documento alerta que, se as atuais tendências de motorização não forem revertidas, “50 bilhões de toneladas de CO² serão emitidas pelo transporte urbano nos próximos 30 anos”, com consequências econômicas e de saúde significativas. “O custo da inação é enorme e não podemos arcar com ele”, reforça o texto.
O relatório destaca que 60% das viagens urbanas têm menos de 5 km, sendo que mais da metade desses deslocamentos são realizados hoje por veículos motorizados. Caminhadas e ciclismo têm o potencial de atender a grande parte da demanda atual e futura de mobilidade.
No documento, há recomendações e sugestões para que os governos consigam realizar ações integradas e coerentes, priorizando e investindo na caminhada e no uso da bicicleta como meios transporte.
Saúde e economia são benefícios adicionais
Além dos benefícios ambientais, o relatório enfatiza os impactos positivos na saúde, evidenciando que a inatividade física causa cerca de 6 milhões de mortes prematuras anualmente. O estímulo à caminhada e ao ciclismo pode reduzir significativamente os riscos de doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas de saúde, resultando em economia global de até 300 bilhões de euros até 2030. Isso considerando apenas custos diretos de tratamentos, sem incluir o peso das perdas de produtividade ou outros resultados importantes para a saúde.
“Caminhar ou andar de bicicleta 30 minutos por dia de trabalho é suficiente para atingir o requisito mínimo de atividade física da OMS, reduzindo o risco de morte prematura de 20 a 30%”, informa o documento da PATH.
Cinco ações para promover a Mobilidade Ativa
A carta destaca cinco pontos essenciais para promover a mobilidade ativa:
Infraestrutura: Tornar caminhadas e ciclismo seguros, acessíveis e fáceis
Campanhas: Apoiar a mudança de hábitos de mobilidade
Planejamento de uso do solo: Garantir proximidade e qualidade no acesso a serviços cotidianos, a pé e de bicicleta
Integração com transporte público: Apoiar a mobilidade sustentável para viagens mais longas
Capacitação: Permitir a implementação bem-sucedida de estratégias eficazes de caminhada e uso da bicicleta
O Vá de Bike reforça seu compromisso com a promoção de formas sustentáveis de deslocamento e espera que a COP28 seja, finalmente, um marco na inclusão efetiva da mobilidade ativa nas discussões climáticas globais.
Carta aberta
A Parceria para Viagens Ativas e Saúde (PATH) , com as organizações abaixo assinadas, apela à UNFCCC, aos governos e aos negociadores da conferência climática COP28 para darem mais prioridade e investimento à caminhada e ao ciclismo para acelerar significativamente o progresso nas metas climáticas e melhorar a vida das pessoas.
Permitir que mais pessoas caminhem e pedalem com segurança é crucial para descarbonizar os transportes e alcançar o Acordo de Paris sobre Alterações Climáticas. Como demonstra a pesquisa da PATH, o potencial para substituir as viagens em veículos motorizados por caminhadas e ciclismo é enorme e está ao nosso alcance. No entanto, o transporte ativo ainda carece de prioridade na UNFCCC e na agenda climática mais ampla, bem como nos compromissos assumidos nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países.
Embora a pesquisa mais recente da PATH sobre os cenários políticos nacionais mostre uma dinâmica crescente para caminhadas e ciclismo, com dois terços dos países da UNFCCC tendo algum tipo de política de viagens ativas em vigor, uma análise mais aprofundada revela que são necessários muito mais ambição, ação e investimento, em quase todo lugar, para efetivamente desbloquear o enorme potencial das caminhadas e da bicicleta em acelerar a redução das emissões dos transportes, da poluição atmosférica, dos congestionamentos e das vítimas do trânsito e, ao mesmo tempo, proporcionar uma melhor saúde pública, economias mais fortes e sociedades mais justas.
A PATH insta a UNFCCC a dar maior prioridade à caminhada e ao ciclismo nas negociações climáticas, e exorta os países da UNFCCC a desenvolverem suas políticas nacionais e NDCs com uma visão comum: encorajar e permitir que as pessoas tenham caminhadas e pedaladas seguras, acessíveis, confortáveis e agradáveis, para mitigar as mudanças climáticas, apoiar o transporte público, reduzir as emissões, beneficiar a saúde pública e criar sociedades vibrantes e inclusivas.
Permitir que mais pessoas caminhem e andem de bicicleta com segurança é uma forma rápida, acessível e confiável de ajudar a reduzir as emissões dos transportes em até 50%, quando as seguintes ações principais são adotadas nas políticas nacionais e ancoradas nas suas NDCs:
Infraestrutura – para tornar a caminhada e o ciclismo seguros, acessíveis e fáceis de fazer.
Campanhas – para apoiar uma mudança nos hábitos de mobilidade das pessoas.
Planejamento de uso do solo – para garantir proximidade e qualidade de acesso aos serviços cotidianos, a pé e de bicicleta.
Integração com transportes públicos – para apoiar a mobilidade sustentável em viagens mais longas.
Capacitação – para permitir a implementação bem-sucedida de estratégias eficazes para caminhadas e uso da bicicleta que tenham impacto mensurável.A PATH criou o Modelo de Política de Mobilidade Ativa para ajudar os governos no desenvolvimento de políticas nacionais mais eficazes para caminhadas e ciclismo, refletidas nas suas NDCs atualizadas antes do prazo de 2025. Os países também são incentivados a utilizar o modelo ao avaliar o seu progresso no balanço global da COP28 no sentido de cumprir os objetivos do Acordo de Paris, identificando lacunas, reforçando seus compromissos e tomando medidas mais decisivas.
Estamos convencidos de que colocar a caminhada e a bicicleta no centro das políticas e dos compromissos para enfrentar as mudanças climáticas é uma forma rápida de alcançar objetivos climáticos urgentes. A PATH e os seus apoiadores estão prontos para apoiar as Partes da UNFCCC neste processo.