Contagem realizada pela Ciclocidade em 13 de junho. Foto: Daniel Guth

Contagem apontou aumento de deslocamentos em bicicleta na Av. Eliseu de Almeida, em São Paulo

Medição no início de junho revelou crescimento do uso da bicicleta como modal de transporte na avenida após implantação da ciclovia, mesmo ainda sem sinalização.

Contagem realizada pela Ciclocidade em 13 de junho. Foto: Daniel Guth
Formulário utilizado pelos voluntários durante a contagem de ciclistas na avenida Eliseu de Almeida. Foto:Daniel Guth
Números mostram crescimento relevante das viagens de bicicleta após a construção do primeiro trecho de ciclovia, mesmo que ainda sem sinalização.
Números mostram crescimento relevante das viagens de bicicleta após a construção do primeiro trecho de ciclovia, mesmo que ainda sem sinalização.

Por Daniel Guth

Na terça-feira, 10 de Junho, a Ciclocidade realizou mais uma contagem de ciclistas na avenida Eliseu de Almeida, região do Butantã, zona oeste da capital paulista. Apesar da garoa implacável durante todo o dia, os números foram mais uma vez expressivos e apontam para um crescimento sustentado dos deslocamentos de bicicleta no local: 648 ciclistas passaram pela esquina da avenida Eliseu de Almeida com a avenida Jacob Zveibil, entre 6h e 20h. Para efeito de comparação, em 2010 foram contabilizados 561 ciclistas e, em 2012, 580.

Se infraestrutura cicloviária cumpre um papel essencial no atendimento à demanda real, ou seja, àqueles que já se utilizam daquele trajeto em seus deslocamentos diários, o mesmo pode ser dito sobre o atendimento à demanda reprimida.

É difícil imaginar alguém que, por resistências intransponíveis, não gostaria de se locomover de bicicleta em São Paulo. É exatamente por isso que uma ciclovia bem implantada, conectando pontos de interesse e centralidades, faz emergir novos ciclistas diariamente.

E esse é o caso da Ciclovia Pirajussara, na Eliseu de Almeida. A ciclovia está (ainda) inacabada: a sinalização acaba de ser concluída, mas sua principal demanda – chegar até Taboão da Serra – ainda não foi concretizada. A promessa dos agentes públicos é garantir os quilômetros adicionais e chegar ao Taboão até o final deste ano. Acompanhemos e cobremos.

Obs.: A medição foi realizada antes da sinalização ser implantada pela CET, enquanto a ciclovia tinha apenas o pavimento.

Bicicletário superlotado faz com que ciclistas "guardem" suas bicicletas do lado de fora da estrutura segura. Foto: Daniel Guth
Bicicletário superlotado faz com que ciclistas “guardem” suas bicicletas do lado de fora da estrutura segura. Foto: Daniel Guth

Bicicletário lotado

Um sintoma de que esta ciclovia beneficiará – e já beneficia – uma quantidade cada vez maior de ciclistas é a superlotação do bicicletário da estação Butantã do Metrô. Com capacidade para 110 bicicletas, é comum verificar dezenas de bicicletas amarradas nos postes do entorno da estação após o esgotamento do atendimento das vagas disponíveis. É preciso que a Via Quatro, em caráter de urgência, apresente uma solução para a demanda real destes ciclistas, ampliando o bicicletário e ofertando maior facilidade na integração dos modais (isto inclui, além do espaço físico, ampliação no horário de funcionamento do bicicletário para que este seja, no mínimo, parelho com o horário de funcionamento da estação).

Outro aspecto que evidencia o acertado caminho por uma infraestrutura permanente e segura para ciclistas é o aumento do número de mulheres utilizando a bicicleta como meio de transporte. Se em 2012 observamos somente 20 mulheres pedalando pelo local da contagem, este ano o número mais do que dobrou, alcançando 45 mulheres.

Trata-se evidentemente de um número muito aquém do desejável. No entanto, são os dados técnicos e comparativos, aliados à análise que fazemos sobre eles, que nos fornecerão os elementos necessários para avaliar e, por que não, avalizar uma correta política pública para a ciclomobilidade na cidade.

Como bem disse Tais Balieiro, diretora de pesquisa da Ciclocidade e coordenadora da atividade de contagem, “o Poder Público, que é quem deveria fazer este tipo de contagem, não faz ou faz muito pouco”. Deixamos, portanto, nosso apelo para que os gestores, em todas as esferas, consigam fazer avaliações sobre os impactos de políticas públicas. Antes, durante e depois de implantadas.

Outras contagens serão realizadas pela Ciclocidade, especialmente após o término da implantação, quando a ciclovia chegar a Taboão da Serra e integrar, definitivamente, com a Estação Butantã do metrô. O prognóstico parece bastante claro: milhares de atuais ciclistas serão beneficiados e outros milhares de não ciclistas se sentirão tentados a optar pela bicicleta como meio de transporte. Não houvesse o histórico das contagens, esse prognóstico seria apenas uma previsão mística ou um feeling de quem quer, desesperadamente, ver aumentar a participação da bicicleta nas viagens realizadas diariamente na cidade.

Histórico da Ciclovia Pirajussara

Por Willian Cruz

Primeiro prazo prometia entrega em 2006

Projeto Ciclo Rede Butantã, que não foi implementado. Clique para ampliar. Fonte: Dossiê Ciclocidade/Apresentação Pró-Ciclista de Arturo Alcorta

Projeto Ciclo Rede Butantã, que não foi implementado. Clique para ampliar. Fonte:Ciclocidade/Arturo Alcorta

Segundo dossiê elaborado pela Ciclocidade, as tentativas de implantação de uma ciclovia na região vêm desde 2004, com a realização do Plano Regional Estratégico do Butantã, que estabeleceu o ano de 2006 como data para a conclusão da obra. No ano seguinte, houve o anúncio da prefeitura de que a estrutura seria concluída até 2010. Em 2008, outro projeto previa infraestrutura cicloviária em vários pontos da cidade, com uma rede estrutural integradora, incluindo o eixo da Eliseu.

Mas, como aponta o relatório da Ciclocidade, “em 2012, ao fim de mais uma gestão, o poder público não deu início a viabilização de qualquer infraestrutura básica a fim de fornecer segurança e conforto para o tráfego de bicicletas nessa importante avenida, acessada diariamente por mais de 600 ciclistas, em condições extremamente precárias e com trânsito intenso de automóveis”. A ciclovia viria a ser iniciada apenas no final de 2013 - quase dez anos depois do primeiro anúncio.

Atraso pago em vidas

Enquanto alguém pensava se desengavetava o projeto ou não e ignorava as alternativas oferecidas, vidas se esvaiam. Em 2012, o pedreiro Lauro Neri morreu na avenida, gerando protestos. Próximo a região, na Av. Francisco Morato, Nemésio Ferreira Trindade também teve sua vida interrompida, em novembro do mesmo ano. Em agosto de 2013, o chefe de cozinha José Aridelson morreu na rua Ari Aps, paralela à Rodovia Raposo Tavares. Em janeiro de 2014, o frentista Maciel de Oliveira Santos, de 42 anos, perdeu sua vida na Av. Pirajussara quando voltava pedalando para casa. São pessoas que continuariam vivendo junto a seus amigos e familiares se a infraestrutura prometida para a região já tivesse sido entregue.

Manifestações e cobranças foram constantes

Além das cobranças da imprensa e de ciclistas e moradores, que chegaram a entregar um abaixo assinado à Prefeitura, a Ciclocidade realizou uma reunião com a subprefeitura do Butantã em setembro de 2010 (que, naquele momento, assumia para si a responsabilidade pela ciclovia). Nessa reunião, os representantes da entidade ficaram sabendo que o início das obras não ocorreria antes do final de 2011, quando seria concluída a canalização do córrego Pirajussara.

A Ciclocidade sugeriu então uma nova proposta cicloviária, com a infraestrutura para bicicletas junto à calçada. Desse modo, a segurança dos ciclistas naquele importante e bastante utilizado eixo de deslocamento seria atendida mais rapidamente. Mas imprensa, ciclistas, moradores e a associação de ciclistas mais uma vez não foram levados a sério: a canalização foi concluída, mas as obras da ciclovia não começaram.

A mobilização prosseguiu. Em maio de 2012, um abaixo assinado pedindo a construção da ciclovia foi entregue ao então prefeito Gilberto Kassab. Em dezembro do mesmo ano, cidadãos realizaram uma manifestação na avenida. Outra manifestação aconteceu em fevereiro de 2013, dessa vez com a presença do subprefeito do Butantã e diversos vereadores (veja aqui), que propuseram um encontro na Câmara Municipal de São Paulo para discutir a construção da ciclovia. Uma carta de reivindicações foi apresentada nesse encontro. Na reunião foi apresentado um plano da prefeitura para a região e discutidas as possibilidades com os cidadãos.

Finalmente a implantação

Em setembro de 2013, o subprefeito do Butantã, Luiz Felippe de Moraes Neto, apresentou um projeto para a ciclovia, novamente na Câmara Municipal, em reunião da Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana. Infelizmente o projeto não foi aprovado pela CET, por falta de qualidade técnica.

A recusa levou o subprefeito a buscar uma solução alternativa pra conseguir iniciar logo as obras - o que veio a ocorrer em dezembro de 2013, com a implementação de um primeiro trecho da ciclovia, ainda sem sinalização (saiba mais).

Em junho de 2014, a Ciclocidade realizou nova medição, contabilizando 648 ciclistas em 14h de contagem. Uma semana depois, a sinalização desse trecho inicial foi finalmente implantada pela CET. Após a sinalização, foram medidos 888 ciclistas em 14 horas, um aumento de 53% em relação a 2012.

Em outubro do mesmo ano, foi anunciado o início da segunda fase da obra, com a promessa de levar a ciclovia até o Taboão no início de 2015. Seguimos acompanhando.

12 comentários em “Contagem apontou aumento de deslocamentos em bicicleta na Av. Eliseu de Almeida, em São Paulo

  1. Boa tarde! Achei muito bacana a contagem de bicicletas que foi feita na Ciclovia. A Ciclovia serviu para unir mais ainda os moradores do Butantã, ando todas as noites e vejo famílias e grupos de amigos se exercitando e isso é muito bom! Estava lendo as noticias passadas e vi que foi comentado que a Ciclovia foi feita com sobras de emendas destinadas a construção de calçadas, mas me lembro de uma placa que informava o valor da Emenda para construção da Ciclovia e esta Emenda era do Vereador Aurélio Miguel, isso não procede? Fico muito preocupado quanto a isso, e gostaria de saber a verdade quanto a estas emendas. Obrigado! E boas pedaladas!

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  2. Essas contagens não podem ser levadas a sério.
    Quando são feitas por entidades ligadas ao uso da bicicleta, são sempre inflacionadas e quando são efetuadas sem parcialidades os ciclistas se mobilizam via redes sociais para aumentar o fluxo de bicicleta onde a contagem é feita a fim de “melhorar” os números, atrapalhando o estudo.

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    1. Eduardo, recomendo se informar melhor sobre como são feitas as contagens. Em muitos casos é utilizado o método fotográfico, em que todos os ciclistas contabilizados são fotografados.

      Claro que o melhor seria se o próprio poder público as realizasse, mas onde o poder público não age os cidadãos tomam a frente.

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      1. Vc mesmo, via twitter ou facebook já pediu a ciclistas para passarem por lugares onde o poder público estava fazendo contagem de ciclistas a fim de melhorar as estatísticas.

        Isso para mim serve para atrapalhar o estudo com um número irreal.

        Menos hipocrisia, por favor.

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        1. Você tem razão, já avisamos os ciclistas onde as contagens estavam sendo feitas. Mas isso não foi feito nessa contagem da Eliseu, justamente para não influenciar o resultado. Quanto a serem inflacionadas, continuo discordando, pois já participei do processo em várias oportunidades e posso atestar que os números representam a realidade da contagem. E essa última medição ainda foi feita em um dia com condições climáticas que diminuem a quantidade de bicicletas nas ruas (chuva/garoa), o que puxa o resultado para baixo.

          Por mais que a contagem seja isenta, não inflacionada, sem aviso aos ciclistas para passarem pelo local, etc., sempre haverá quem não acredite no resultado. E se até os próprios cidadãos duvidam, que dirá o poder público? Gostaria de ouvir sua sugestão para melhorar a confiabilidade desse processo, ou saber se você acredita realmente que as entidades e grupos organizados de ciclistas não devam fazer as contagens (o que nos deixaria sem nenhum número, já que o poder público não as faz).

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          1. Desculpe, mas primeiro vc diz que eu tenho razão, que já convocou ciclistas para “turbinar” resultados de uma pesquisa, depois vc diz que acredita na pesquisa por participar do processo?
            Quando o poder público resolve fazer uma contagem vc se esforça para inflacionar o resultado, mas nas contagens que vc e as entidades ligadas ao cicloativismo efetuam o resultado é confiável?

            O poder público já fez contagens aqui em São Paulo, essas mesmas que vc, outros cicloativistas e entidades ligadas ao cicloativismo se esforçaram tanto para deturpar, prestando um desserviço ao poder público e à cidada (nas ciclofaixas de Moema por exemplo).

            Respondendo: Não, eu não acho que grupos organizados de ciclistas devam fazer as contagens.
            O poder público deve fazer. Se o poder público não fizer, contrata um instututo de pesquisa idôneo para que faça a contagem. Proto, aí esta a sua confiabilidade no processo.

            Lembrando que a confiabilidade vai embora no momento em que vcs mesmos sabotam o processo.

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            1. Falei de duas coisas diferentes, mas tudo bem. E “contratar um instituto de pesquisa idôneo” não é exatamente uma opção, pois não sai nada barato, como você bem deve saber. De qualquer forma, obrigado pela sua opinião, pois apesar de explicitá-la de uma forma um tanto rude, contribuiu para esclarecer pontos importantes dessa questão. Grande abraço!

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  3. Acredito que a garoa influenciou muito. Utilizo a Eliseu a 2 anos e o fluxo depois da ciclovia aumentou bastante, agora nos semáforos chegam a se formar filas. Espero realmente que o prefeito cumpra o prometido, pois o segundo trecho da ciclovia é muito perigoso na volta, passo por lá desconfiando da minha própria sombra pra não me arriscar, com a ciclovia seria MUITO mais tranqüilo.

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    1. Anderson, COM CERTEZA a garoa atrapalhou a contagem. Mesmo atrapalhando, o aumento já foi medido (o que é sensacional). Faremos outras contagens que certamente apresentarão números ainda mais estimulantes. abs!

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