Excesso de carros deixa poluição acima do limite há 22 anos em São Paulo
Causando problemas respiratórios, envelhecimento precoce e mortes, índice chega a ultrapassar em quatro vezes a recomendação da OMS. E os estudos comprovam: veículos motorizados são a causa principal.
Quem mora na capital paulista respira um ar insalubre há mais de duas décadas. E muitas dessas pessoas estão expostas ao excesso de poluição desde que nasceram. O motivo? O alto uso de carros e motos na cidade.
De acordo com uma nota técnica publicada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), a poluição do ar na cidade de São Paulo permaneceu acima do indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao longo dos últimos 22 anos. Nem mesmo durante a pandemia (2020 e 2021), a qualidade do ar esteve adequada. Alguns pontos da cidade tiveram índices quatro vezes acima do indicado.
Como resultado, há um efeito agudo e crônico na saúde, aumentando as chances de desenvolver doenças do sistema respiratório como asma, além de envelhecimento precoce. “Quanto maior a concentração de poluentes, mais a saúde é afetada”, alerta David Tsai, gerente de projetos no IEMA e coordenador do estudo.
A OMS estima que 7 milhões de pessoas morrem por ano no mundo em decorrência da poluição do ar, que afeta todos os órgãos do corpo humano e também outros seres vivos.
“O objetivo da nossa nota técnica é alertar a necessidade de se reduzir as emissões de poluentes em São Paulo. Para isso, precisa-se reduzir radicalmente a circulação de veículos na cidade, investindo em transporte público e transporte ativo”, diz Tsai.
Automóvel como principal responsável
Segundo o IEMA, a qualidade do ar na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é influenciada principalmente pelas emissões veiculares, ou seja, devido ao trânsito de carros, motos, caminhões e ônibus.
E o Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo (CETESB, 2020) confirma essa informação: veículos a motor respondem por 96% das emissões de monóxido de carbono, 73% dos hidrocarbonetos e 65% dos óxidos de nitrogênio (NOx), por exemplo.
É fato que caminhões têm taxas de emissão por veículo superiores aos automóveis. Entretanto, cumprem papel importante na distribuição de bens e mercadorias, sendo difícil substituí-los (apesar de boas iniciativas não poluentes para a entrega de “última milha”).
Ainda temos os ônibus, que via de regra também emitem mais poluentes, porém transportam dezenas de pessoas por viagem. Como resultado, um ônibus com 100 pessoas causa muito menos poluição do que os carros que seriam necessários para transportá-las individualmente a seus destinos.
Por outro lado, o uso do carro ou da motocicleta para deslocamentos cotidianos acaba sendo, principalmente, uma consequência direta da falta de investimento e atenção do poder público para com o transporte coletivo e os transportes ativos (bicicleta, pedestrianismo e outros).
É possível perceber que o planejamento viário da cidade priorizou os deslocamentos individuais motorizados nas últimas décadas, incentivando cada vez mais seu uso. Basta considerarmos características como desenho das vias, tempos semafóricos para pedestres, falta de travessias seguras e a quase inexistência de estruturas de proteção ao ciclista (ciclovias) até poucos anos atrás.
Redução de emissões
Reduzir as emissões dos veículos motorizados ajuda a melhorar a qualidade do ar, mas tem se demonstrado insuficiente.
Por exemplo, desde 2000 nota-se uma redução do dióxido de nitrogênio (NO2). Isso pode ser explicado “pelo fato de os veículos emitirem menos devido ao Programa de controle de emissões veiculares (Proconve), iniciado em 1986”, afirma Tsai.
No entanto, o índice ainda chega a quase cinco vezes mais que o recomendado em alguns pontos da cidade. Isso porque há cada vez mais carros circulando na cidade: não adianta diminuir as emissões se houver cada vez mais veículos emissores.
Carro elétrico
Substituir os veículos a combustão por modelos elétricos é um dos caminhos para reduzir as emissões. Foi essa por sinal a grande aposta da COP26, Conferência da ONU sobre Mudança Climática, que aconteceu em novembro de 2021 na Escócia.
Porém o custo dessa mudança é bastante alto e ela demora a acontecer. E os países menos desenvolvidos terão grande dificuldade em efetuar essa transição. A demanda por eletricidade aumentará vertiginosamente e sua geração precisará ser sustentável. Ainda há a polêmica questão das baterias, tanto em relação à sua vida útil quanto principalmente ao seu descarte.
Por essas razões, a troca de matriz energética não pode ser vista como solução única, nem como caminho principal.
Infelizmente, a COP26 não teve um único debate sobre substituição de automóveis particulares por transporte coletivo ou modos ativos, deixando a expectativa de um futuro onde as pessoas precisarão comprar um carro elétrico para se deslocar. Bom para a indústria automobilística, que “por coincidência” participou ativamente da conferência do clima.
Bicicletas e transporte público
Nesse contexto, uma estratégia bastante importante para diminuir a emissão de poluentes (e até mesmo óbvia) seria criar condições para que a circulação de automóveis fosse reduzida naturalmente.
É imperativo que cada vez mais pessoas substituam o uso do carro e da motocicleta por trens, ônibus e deslocamentos ativos, como bicicleta e caminhada. Afinal, quanto menos veículos motorizados circulando, menor a emissão. Isso sem falar nos benefícios econômicos, sociais e de saúde pública, tanto para os indivíduos quanto para as cidades.
Como incentivar o uso dos ônibus
O técnico em transportes Renato Lobo, do Portal Via Trolebus, elenca 5 ações para melhorar o sistema de ônibus em São Paulo.
- Construir faixas e corredores exclusivos, para que não haja atrasos ou demora nas viagens
- Desfazer gargalos, com priorização dos semáforos para o ônibus, por exemplo
- Cobrar a passagem fora do veículo, para o ônibus não terá que esperar até que todos passem a catraca
- Reorganização de linhas, com o cuidado de ter como objetivo o conforto e rapidez e não a simples redução de custos, que geralmente beneficia apenas as empresas
- Melhorar a informação nos pontos e sites, para ajudar os usuários a buscarem viagens mais diretas e evitar que o motorista precise dar informações a quem embarca
Como incentivar o uso da bicicleta
Durante a COP26, uma carta conjunta pelo uso da bicicleta fez um forte apelo aos governantes e líderes para que se comprometessem a aumentar significativamente o número de pessoas que pedalam em seus países. Organizada pela Federação Europeia de Ciclistas (ECF), a carta foi assinada por 350 organizações que atuam pelos ciclistas, incluindo o Vá de Bike.
Seis itens foram citados na carta como formas de aumentar significativamente o uso da bike:
- Promover o uso da bicicleta em todas as formas, incluindo cicloturismo, ciclismo esportivo, bicicletas compartilhadas, deslocamentos ao trabalho ou escola e uso para exercícios
- Reconhecer a bicicleta como uma solução climática, deixando claro que um aumento nas viagens de bicicleta e uma redução nas viagens de carro reduzem as emissões de CO2
- Criar e financiar estratégias nacionais para a bicicleta e coletar dados sobre seu uso, para compreender onde melhorias na infraestrutura e no uso podem ser feitas
- Focar investimentos na construção de infraestrutura cicloviária segura e de alta qualidade, e em incentivos para comunidades historicamente marginalizadas no uso da bicicleta
- Fornecer incentivos diretos para que pessoas e empresas substituam o carro pela bicicleta em suas viagens diárias
- Construir sinergias com o transporte público e promover soluções combinadas de mobilidade, para um ecossistema multimodal capaz de cobrir todas as necessidades dos usuários sem que precisem depender de um automóvel particular
Os poluentes
O estudo observou a evolução anual das concentrações de três poluentes, de 2000 a 2021: material particulado (MP), ozônio (O3) e dióxido de nitrogênio (NO2) . Todos têm relação direta com a emissão dos veículos automotores, apesar de também poderem vir de outras fontes emissoras.
O ozônio (O3) é formado com a radiação solar, tornando-se mais frequente em dias ensolarados. Seus precursores são os também poluentes óxidos de nitrogênio (NO e NO2 – ou, genericamente, NOx) e os compostos orgânicos voláteis (hidrocarbonetos) – estes derivados principalmente do uso de combustíveis.
Também foi analisado o material particulado 2,5 (mais fino) e o material particulado 10, ambos emitidos tanto pela combustão dos veículos quanto pelo desgaste de suas peças e pelo atrito de seus pneus com a pista.
De acordo com Nathalia Villa dos Santos, professora da Faculdade de Saúde Pública e pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (ambos da USP), o excesso de poluentes no ar reduz a expectativa de vida em cerca de um ano e meio na cidade. A estimativa é que as mortes em decorrência da poluição superem as causadas por sinistros de trânsito, cânceres de mama e próstata e AIDS.
Bacana o incentivo o problema é o risco que isso trás as pessoas, domingo fui atropelado de bicicleta, graças a Deus apenas ferimentos leves mas senti de perto o risco da morte, pedalei por bom tempo nas ruas mas meu conselho de hoje é NÃO PEDALEM NAS RUAS, VOCÊ PODE NÃO VOLTAR PARA CASA.
O pior de tudo, ainda saímos como errados, ainda estou desamparado sem saber se tenho direito de indenização pelo bem material da bicicleta.
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João, dizer isso é o mesmo que recomendar que as pessoas não saiam de casa, pois podem morrer em um assalto. Devemos todos tomar nossas precauções para minimizar risco, mas não podemos deixar de viver. E você tem sim direito a indenização. Espero que tenha feito boletim de ocorrência e documentado em fotos os danos e a placa do atropelador. Tente a reparação com o atropelador e, se não resolver, vá a um Juizado Especial Cível e se informe.
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