Visão lateral de um dos novos acessos, na Ponte Cidade Jardim. Foto: Rachel Schein

Novos acessos da Ciclovia Rio Pinheiros, em São Paulo, trarão risco aos ciclistas

Acessos, que fazem parte das adaptações para não interromper a circulação de ciclistas durante os dois anos de obras do Monotrilho, têm falhas de projeto que criam risco de queda para os usuários.

Forte ângulo de inclinação é o principal problema dos novos acessos. Foto: Rachel Schein
Forte ângulo de inclinação é o principal problema dos novos acessos. Foto:Rachel Schein

A Ciclovia Rio Pinheiros está recebendo uma série de adaptações, para que os ciclistas não tenham sua circulação interrompida durante os dois anos de obras do Monotrilho – Linha 17 Ouro do Metrô (veja quais são essas adaptações e a opinião dos ciclistas sobre elas). Dentre as mudanças estão dois conjuntos de acessos à margem oposta do rio, para que se possa usufruir da pista que foi pavimentada ali, um na ponte João Dias e outro na Ponte Cidade Jardim. Nesta última, haverá também acessos externos.

Seria tudo ótimo se esses acessos não fossem através de escadas com um ângulo de inclinação muito forte. Em todas as reuniões de que participamos, deixamos claro que seria muito melhor utilizar rampas, como em quase todos os acessos já existentes. A única entrada da Ciclovia que utiliza escadas é o acesso da Vila Olímpia, mas apenas porque foi preparada sobre um acesso já existente, utilizado para entrar a pé na área da Usina de Traição a partir da estação de trem.

No dia 24 de fevereiro de 2014, representantes dos ciclistas fizeram uma visita às obras para verificar o andamento. Rachel Schein estava por lá e preparou as fotos que você vê nesta matéria.

Veja a galeria completa, com fotos dos acessos e da pista nova

Perigo de queda

Visão lateral de um dos novos acessos, na Ponte Cidade Jardim. Foto: Rachel Schein
Visão lateral de um dos novos acessos, na Ponte Cidade Jardim. Foto: Rachel Schein

Sempre ressaltamos que as escadas são péssimas para os ciclistas, por diversos motivos. Os principais são que nem todos que utilizam a bicicleta têm perfil de atleta e que idosos, crianças, pessoas com problemas de coluna, com pouca força nos braços ou com bicicletas muito pesadas já enfrentam dificuldades no acesso da Vila Olímpia, chegando em alguns casos a deixar de utilizar a ciclovia por conta disso. As escadas também constituem fator de risco, principalmente com piso metálico, representando possibilidade de quedas e até fraturas.

Empurrar uma bicicleta escada acima, em uma canaleta estreita e com inclinação forte como essa, sobretudo com piso molhado e/ou sapatilha de ciclismo (que possui um “taquinho” de metal na sola), representa um risco alto de queda. E rolar uma escada com um bicicleta caindo por cima de você não deve ser agradável.

Durante as reuniões com os representantes da obra reforçamos que, se fosse imprescindível utilizar escadas, elas deveriam ter uma inclinação menor, utilizando-se degraus mais largos para obtê-la. Mas vê-se que essa demanda foi ignorada.

Ângulo impraticável

Além do acesso ser construído em uma escada metálica, há diversos outros complicadores, que impedirão seu uso a boa parte dos ciclistas e colocarão em risco os que insistirem em utilizá-las. Acidentes graves não tardarão a acontecer, tanto subindo quanto descendo a escada.

1. A escada tem uma inclinação muito forte. É necessário um grande esforço para empurrar a bicicleta escada acima e nem todos os ciclistas conseguirão fazer isso. O peso da bicicleta acaba de se concentrar fortemente no ciclista e a chance de um dos pés escorregar é muito grande, causando um grave acidente. Na hora de descer, o problema é o mesmo: é preciso segurar com força a bicicleta para que ela não desembeste canaleta abaixo. Os freios não serão suficientes nesse ângulo, pois o pneu escorregará, principalmente em bicicletas mais pesadas ou com carga no bagageiro – algo muito comum entre os ciclistas que utilizam a ciclovia para ir e voltar do trabalho.

2. A canaleta tem um ângulo “seco” na transição, fazendo com que o ciclista precise dispender um grande esforço para vencer essa barreira para começar a subida. No final de cada lance, esse ângulo faz com que a coroa da bicicleta (engrenagem dianteira) bata na canaleta. Além de poder danificar o mecanismo de forma irreversível, entortando dentes da coroa, há novamente a possibilidade do ciclista perder o equilíbrio, caindo com a bicicleta pela escada.

3. As proteções laterais ficam próximas demais da canaleta. Mesmo guidões mais estreitos esbarram nelas, em uma situação que pode derrubar a bicicleta e, com ela, o ciclista.

4. Bem no meio da escada há uma “emenda” ou algo semelhante, que além de tudo é de metal e lisa. Ao empurrar a bicicleta você precisa de espaço para o corpo, para colocá-lo em ângulo que suporte esse peso. Principalmente se for uma bicicleta de passeio com guidão alto e/ou largo, que precisará ser tombada de lado dependendo de sua estatura. Se o ciclista pisar nessa emenda quando estiver suportando em seu corpo todo o peso da bicicleta, poderá escorregar, torcer o pé e cair.

5. A escada termina sobre a ciclovia, provavelmente para não ter que preparar um trecho curto de piso ligando sua saída à via ciclável. Além de diminuir o espaço útil da ciclovia, ainda cria um ponto cego, que pode fazer com que as bicicletas colidam de frente. Isso é especialmente perigoso para os ciclistas em treinamento, que circulam em velocidade mais alta, com menor tempo de reação.

Renata Falzoni, em seu texto no site Bike é Legal, chegou a chamar essas escadas de “monumento à burrice e ao descaso com os ciclistas”. Me parece que ela tem razão.

Escada termina dentro da ciclovia, diminuindo o espaço de circulação e criando um ponto cego, que pode causar colisões entre os ciclistas. Foto: Rachel Schein
Escada de acesso termina dentro da ciclovia, diminuindo o espaço de circulação e criando um ponto cego que pode causar colisões entre os ciclistas. Foto: Rachel Schein

Ministério Público

As obras já estão praticamente prontas. Na visita do dia 24 de fevereiro, ainda faltavam detalhes a se resolver, como finalizar a separação física na área que cruza a usina, instalação de grades em alguns pontos do percurso e o corte das grades e muretas que ainda bloqueiam as escadas, nos acessos. O prazo original para liberação era 25 de fevereiro.

Além do acordo com os representantes dos ciclistas, em negociação que documentamos extensivamente aqui no Vá de Bike, O Ministério Público condicionou a interdição do trecho antigo à liberação da via alternativa na outra margem. Resta saber se o MP irá aceitar instalações que coloquem em risco a integridade dos cidadãos.

A dor de cabeça com as vans

Enquanto a pista nova não é liberada, vans com carretinhas transportam ciclistas e bicicletas pelo trecho em obras. Mas essa solução tem trazido problemas para os usuários. Muitos reclamam de danos nas bicicletas, outros sobre uma demora que, nas reuniões, garantiu-se que não ocorreria.

O leitor Antonio Oliveira diz que as vans têm causado atraso para quem usa a via para chegar ao trabalho. “O nosso percurso, que antes era de 30 min, agora é de 1h30 até 2 horas”, nos relatou por e-mail, contando que há caminhões descarregando concreto e que muitos ciclistas precisam pedalar em meio à obra para não chegar atrasados. Segundo Antonio, há quatro vans, mas costumam ficar só de um lado da obra.

André de Azambuja, outro de nossos leitores, conta que, além da demora para sair com a van, sempre há caminhões bloqueando completamente a pista, fazendo com que o traslado seja interrompido para aguardar. “Um trajeto de 2,5 km acaba durando 1 hora, 1 hora e meia. Fica a impressão que é de propósito, pra desestimular mesmo o pessoal de ir trabalhar de bicicleta enquanto durarem as obras. Sei que a obra é importante, mas custava não fazer bloqueios totais até pelo menos 9h da manhã?” André também relata ciclistas circulando em meio às obras devido à demora das vans.

Como se o atraso no trabalho não fosse suficiente, os suportes ainda danificam as magrelas. O leitor Bruno Silva, por exemplo, nos relatou que por mais de uma vez teve o pneu da bicicleta furado durante o transporte. Em uma das ocasiões, o aro estava empenado. As bicicletas são dispostas de forma perpendicular à direção da van, fazendo com que o peso da bicicleta seja suportado lateralmente pelos aros, principalmente nas frenagens. Por não serem projetados para receber esforço lateralmente, acabam por entortar.

Ciclovia Rio Pinheiros

Prefeito de São Paulo questiona proibição de pedalar em acesso da ciclovia

Ciclopassarela do Parque do Povo é inaugurada em São Paulo

Pista da margem oeste liberada para uso

Novos acessos trazem risco aos ciclistas

Pela primeira vez, São Paulo terá pontes com ciclovia

A opinião dos ciclistas sobre as soluções para a interdição

CPTM publica retratação por afirmação sobre Ciclovia

Monotrilho não prossegue sobre ciclovia enquanto
não houver alternativa para os ciclistas

Acessos e horário da Ciclovia Rio Pinheiros

22 comentários em “Novos acessos da Ciclovia Rio Pinheiros, em São Paulo, trarão risco aos ciclistas

  1. Mudando um pouco de assunto, quando fui trabalhar de bicicleta pela ciclovia da Marginal Pinheiros quase peguei uma insolação, as duas unicas sombras num trajeto de 8 Km foram de dois viadutos, não existe uma arvore se quer de um porte um pouco maior capaz de gerar esse tipo de beneficio tão importante e ao mesmo tempo visualmente belo. Gostaria de deixar minha queixa aqui registrada para começarmos a exigir o plantio de arvores em futuras melhorias.

    Thumb up 4 Thumb down 3

  2. meu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! cara , esse pessoal de engenharia são mto burrooossss!!!!!!!!! pq não colocam rampas??? SABEM RAMPAS ? ENTÃO……….. RAAAMMMMMMMMMPPPPPPAAAAASSSSSS! ANIMAIS !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    Thumb up 4 Thumb down 1

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *