Foto: Pedro Sibahi

Pedale pelo deserto mais seco do mundo, o Atacama

O colunista do Vá de Bike, Pedro Sibahi, indica trilhas menos conhecidas do deserto do Atacama, que incluem vales, lagoas de água salgada e até um vulcão.

Entrada do Valle de la Muerte. Foto: Pedro Sibahi
Entrada do Valle de la Muerte. Foto: Pedro Sibahi

A cidade de San Pedro de Atacama, na região de Antofagasta, no Chile, pode ser considerada um verdadeiro oásis. O deserto onde está a cidade recebe em média apenas 30 milímetros de chuvas por ano, menos que o Saara. Com as grandes variações de temperatura e os fortes ventos, o clima extremo formou uma paisagem dramática, cheia de cânions, vales e montanhas, além do próprio deserto pedregoso. É um cenário perfeito para explorar de bicicleta, por caminhos de visual incomparável.

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Quem chega até a cidade encontra um povoado muito turístico e globalizado, mas que conserva sua originalidade, especialmente na arquitetura, com suas casas de adobe (tijolo de barro) e ruas de terra. O clima é cosmopolita, com trabalhadores e viajantes de todas as partes do mundo – alguns deles em bicicleta. As opções de acomodação variam desde campings até hotéis de luxo. E há quem simplesmente arme a barraca no deserto para passar a noite sob as estrelas, com um céu quase sempre sem nuvens.

Os pontos turísticos mais populares, como o Valle de la Luna – um enorme vale com alta concentração de sal e outros minerais de coloração branca, onde há uma duna de onde se assiste ao pôr do sol – e a Quebrada del Diablo – um cânion com paredes de ângulo negativo entre as quais é possível pedalar – são tão fáceis de encontrar que não precisam de muitas indicações. Também há outros lugares que podem ser visitados com a bicicleta, como os Geysers del Tatio, o povoado de Toconao, as ruínas da Pukara de Quitor.

A seguir, confira os roteiros para três pontos que valem ser visitados, mas que são menos conhecidos ou necessitam de maior planejamento para serem alcançados.

Um dos Ojos del Salar. Foto: Pedro Sibahi
Um dos Ojos del Salar. Foto: Pedro Sibahi

Laguna Cejar, Ojos del Salar e Laguna Tebinquiche

Há diversas lagoas de água salgada no salar homônimo a San Pedro, na direção sul. A Laguna Cejar é um ponto turístico popular, localizada dentro de uma área onde há uma lagoa salgada artificial para banhar-se e a lagoa original, somente para fotografias, com o custo de 30.000 pesos chilenos para entrar (cerca de R$ 160).

Já a Laguna Tebinquiche é uma das maiores lagoas na região, sem custo de entrada. É uma lâmina de água de aproximadamente 30 centímetros de profundidade, sob a qual há uma camada de sal de brancura excepcional. Ao fundo, montanhas e vulcões emolduram a paisagem.

Para chegar à Laguna Tebinquiche, que fica a aproximadamente 40 quilômetros do centro de San Pedro, é preciso passar pela Laguna Cejar e depois cruzar duas pequenas lagoas menores, de água doce, conhecidas como Ojos del Salar por conta de seu formato circular. É possível mergulhar e refrescar-se nos Ojos, mas a entrada na Tebinquiche deve ser evitada pois o local faz parte de um bioma muito frágil e a camada de sal, que cresce muito lentamente ano a ano, é facilmente destruída pela entrada de pessoas.

Desde San Pedro, é preciso tomar uma estrada de terra pelo bairro de Solor, que leva até a Laguna Cejar, depois seguir até o destino final. O caminho desértico é de beleza singular e a estrada de terra vai agradar os amantes de mountain bike, com buracos, costelas e pedras soltas. Também é possível percorrer os primeiros 18 km pelo asfalto na Ruta 23, depois tomar a estrada de terra, mas esse trajeto aumenta um pouco a distância total.

Vulcão Licancabur. Foto: Pedro Sibahi
Vulcão Licancabur. Foto: Pedro Sibahi

Valle de La Muerte e Valle de Catarpe

O Valle de La Muerte é um destino bastante popular, assim como o Valle de Catarpe, mas poucas pessoas fazem a trilha que percorre os dois lugares. Saindo de San Pedro pela Ruta 23 sentido Calama, que passa em frente ao Valle de la Luna, seguimos apenas 3 km até um conjunto de montanhas onde se lê “Cordillera de la Sal”. Aí começa o vale, com estradas de terra e areia.

Após alguns quilômetros, a estrada passa adiante de uma enorme duna onde se pratica sandboard, depois a rota segue para a esquerda, com uma longa subida em frente a um paredão. Aqui o piso é extremamente arenoso e será preciso empurrar a bicicleta sob o sol forte. Após a subida, a estrada começa a descer e faz uma curva para a direita, aí se pega a trilha que passa por cima do paredão que admiramos alguns quilômetros atrás.

São aproximadamente mais 10 km com muitas pedras e cascalho, subidas e descidas leves, até chegar a um antigo túnel de 1928, já no Catarpe. Para acessar o túnel é preciso desmontar da bici e descer por uma pequena trilha que vai pela esquerda, depois, é pura descida, mas tome cuidado com os buracos. A estrada passa em frente à entrada da Garganta del Diablo, de onde são apenas mais 8 km até voltar a San Pedro.

É recomendado o uso de GPS para fazer esse roteiro, perder-se no deserto oferece risco de morte.

Laguna Tebinquiche. Foto: Pedro Sibahi
Laguna Tebinquiche. Foto: Pedro Sibahi

Base do vulcão Licancabur, Laguna Verde e Laguna Blanca

Apesar de ser o ponto turístico mais conhecido de San Pedro, uma vez que é visível de qualquer parte da cidade, o Licancabur não é tão visitado por conta da distância e do custo dos tours com agências. Porém, o desafio imposto por uma subida descomunal (e a diversão ao voltar descendo), além do visual ao ingressar no deserto em território boliviano, tornam essa empreitada perfeita para um ciclista que gosta de aventura e de montanhas.

Saindo de San Pedro pela Ruta 27, percorremos cerca de 13 quilômetros até começar a subida, então, serão mais 35 quilômetros encosta acima, de 2500 metros de altitude até os 5000 metros acima do nível do mar, sem um milímetro plano para descansar. Essa subida pode custar até dois dias para ser realizada, dependendo do peso da bagagem e do preparo físico. Depois, são mais aproximadamente 8 km até a entrada do Parque Nacional Eduardo Avaroa, onde é preciso pagar 150 bolivianos para ingressar (cerca de R$ 75).

É importante lembrar que para entrar na Bolívia, mesmo que por um dia, é necessário dar saída do Chile na aduana localizada em San Pedro, sob pena de pagar uma multa na volta. Uma vez dentro da reserva boliviana, é possível se juntar a grupos já organizados para escalar o vulcão, ou fazer a empreitada solitariamente se for um montanhista com certa experiência, mas essa é uma escalada considerada de alto nível técnico por conta da neve, gelo e pedras soltas.

Pedro Sibahi partiu de São Paulo rumo ao sul do país, passando pelo Paraguai, Argentina e Bolívia, para de lá voltar à capital paulista. Acompanhe essa aventura no pedal e conheça as preciosas dicas do viajante. Veja o que Pedro já publicou aqui no Vá de Bike.

Mapa

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1 comentário em “Pedale pelo deserto mais seco do mundo, o Atacama

  1. Muito bom artigo, realmente o atacama é maravilhoso ! E parabéns pela coragem e organizacao! Arrasou! Também fiz essa viagem (nao de bike, um dia ainda chego lá ehheh) e é realmente incrível

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