De bicicleta pelo sul da Bolívia

Saiba como é cicloviajar nessa região pouco visitada por turistas, com paisagens que se alternam entre altiplano, montanhas, desertos e vales verdejantes

Potosi. Foto: Pedro Sibahi
Potosi. Foto: Pedro Sibahi

Quem passa pelo Salar de Uyuni, na Bolívia (veja relato anterior), não deve perder a oportunidade de percorrer o sul do país para ir até Potosi, em vez de pegar a estrada que liga diretamente as duas cidades.

Pouco visitada por turistas, a região abriga paisagens que se transformam drasticamente ao longo de poucos quilômetros, entre o altiplano, montanhas, desertos e vales verdejantes.

Quem percorre essa rota enfrenta de tudo: frio, calor, areia, subidas íngremes sem pavimento e até alguns rios. Não sabia bem o que esperar quando decidi fazer esse trajeto, mas valeu a pena cada perrengue.

Paisagens do “velho oeste”

Saindo de Uyuni pela rota 21, são 200 km até Tupiza, primeira cidade de médio porte. A primeira metade deste trecho não apresenta variações muito significativas de altitude, porém, a areia e a falta de água podem ser problemáticas, vá preparado.

Vales nas proximidades de Tupiza. Foto: Pedro Sibahi
Vales nas proximidades de Tupiza. Foto: Pedro Sibahi

Após 100 km chegamos a Atocha, uma cidade de mineração, com alojamentos e mercados. A partir daí, a estrada entra em uma região de vales, com subidas e descidas ao longo de todo o trajeto. Logo na saída da cidade mineira já é preciso cruzar rios e empurrar bastante a bicicleta na areia. Ao menos a partir daqui há vários povoados pelo caminho, portanto não há grande riscos de ficar sem suprimentos.

Nas proximidades de Tupiza, a sensação é de cair subitamente no meio do velho oeste, cercado de cactos e rochas avermelhadas, em oposição ao deserto esbranquiçado da região altiplânica.

Uma descida vai rapidamente dos 4 mil aos 3 mil metros de altitude quando estiver a 30 km da cidade. Depois, é só curtir a paisagem em meio a vales que parecem florescer por mágica.

O que vale aqui é o entorno, pois Tupiza tem pouco a oferecer: mercados de rua, algumas lojas para comprar reparos de bicicleta e umas poucas trilhas para serem percorridas a pé.

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Reserva Biológica da Cordilheira de Sama

Seguindo viagem, a próxima parada é Tarija, porém o trajeto até lá é bastante árduo – ao menos se o objetivo for conhecer a Reserva Biológica da Cordilheira de Sama, onde encontrei diversas espécies de aves andinas, além de ruínas incas.

De Tupiza, são quase 70 km de asfalto sentido sul pela Ruta 14, até uma estrada de terra sem denominação que segue para Sama, a leste. A estrada é precária e estreita, mas as condições não são tão terríveis para um ciclista quanto seriam para um caminhoneiro.

Após alguns quilômetros razoavelmente planos, há um grande vale, com mais de 10 km de descida. Uma vez na parte baixa, é preciso recobrar forças para um dia longo e duro de pedal, com cerca de 20 km morro acima em uma estrada cheia de pedras e cascalho.

A recompensa é avistar a reserva de Sama de cima, com os lagos Tajzara, pequenas vilas de agricultores familiares e pássaros selvagens. Com tempo, é fácil encontrar um lugar para acampar e buscar informações sobre trilhas na região. Entrando em contato com antecedência é possível conseguir um alojamento do Servicio Nacional de Áreas Protegidas.

Centro de Tarija. Foto: Pedro Sibahi
Centro de Tarija. Foto: Pedro Sibahi

Tarija e seus mercados

Passando Sama, chegamos a Ruta Nacional 1, onde será preciso pedalar mais um pouco e atravessar um longo túnel, para depois encontrar uma descida de quase 25 km, até San Lorenzo. Depois, são apenas 17 km até Tarija.

A cidade é capital departamental e possui uma mistura interessante de cultura hispânica e andina, com forte influência dos hermanos argentinos (a fronteira está 200 km ao sul). Nas redondezas de Tarija há outra importante reserva natural, chamada de Tariquia, com uma floresta exuberante, além de vários locais com cachoeiras.

Nesta região o clima já é mais quente e úmido e os mercados são abundantes em opções de frutas, verduras e legumes.

Potosi

Tarija é o último ponto no sul Boliviano. Daqui segui para Potosi, percorrendo mais 450 km, de volta à Ruta Nacional 1. O trajeto é pavimentado e não apresenta nenhum grande empecilho, com exceção de duas grandes subidas. Uma é aquela que passamos na vinda de Sama, a outra é na chegada a Potosi, quando alcançamos os 5 mil metros de altitude, antes de baixar até os 4 mil, onde está a cidade.

Potosi é um importante centro mineiro desde o período pré-colombiano. Contudo, a exploração por parte dos espanhóis foi tão violenta que deixou cicatrizes até hoje, visíveis na terra e no povo. Ainda assim, a cidade possui charmosas construções históricas, além de lagoas termais nas proximidades.

Pedro Sibahi partiu de São Paulo rumo ao sul do país, passando pelo Paraguai, Argentina e Bolívia, para de lá voltar à capital paulista. Acompanhe essa aventura no pedal e conheça as preciosas dicas do viajante. Veja o que Pedro já publicou aqui no Vá de Bike.

Mapa

2 comentários em “De bicicleta pelo sul da Bolívia

  1. Em 2011 percorri o Altiplano saindo de Ollague rumo ao Salar Uyuni , voltei pelo Salar Chiguana rumo a reserva Eduardo Avaroa seguindo até a fronteira do Chile e descendo até San Pedro de Atacama , foi tenso , mas magnífico !

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