Foto: Willian Cruz

11 motivos para não pedalar na contramão

Pedalar na contramão traz uma certa sensação de segurança por vermos os carros se aproximando, mas isso acaba sendo muito mais perigoso. Entenda os motivos.

Pedalar na contramão proporciona uma falsa sensação de segurança, trazendo mais risco ao ciclista. Foto: Willian Cruz
Pedalar na contramão proporciona uma falsa sensação de segurança, trazendo mais risco ao ciclista. Foto:Willian Cruz

1Não é mais rápido: Ao contrário da crença polular, ciclistas que se integram ao fluxo normal de veículos chegam mais depressa ao destino. Quando você entra na contramão, tem que parar ou diminuir o ritmo a todo instante (pelos motivos expostos nos itens abaixo), enquanto integrado ao fluxo de veículos você desenvolve velocidades maiores – principalmente considerando-se a velocidade média, que é o que determina a duração do trajeto1.

Dicas para o ciclista urbano

1Como se manter seguro

2Pedalando para o trabalho (vídeo)

3Não pedale na contramão

4Ocupe a faixa

5Cuidado com as portas

6O que diz o Código de Trânsito

710 dicas para os dias de chuva

8E se a empresa não tem chuveiro?

97 truques para as subidas mais difíceis

107 dicas para pedalar de madrugada

11Medo de pedalar nas ruas?
Chame um Bike Anjo!

128 dicas para pedalar nos dias frios


2Não é mais seguro: A maneira mais segura de pedalar no trânsito é fazer parte dele. De acordo com estudos científicos sobre colisões, ciclistas que pedalam na mão correta têm cerca de cinco vezes menos chances de colisão, comparados aos que fazem suas próprias regras em vez de se integrar às que já valem aos demais veículos (J. Forester; Effective Cycling. Cambridge, MA, MIT Press, 1993)1. Segundo Bruce Mackey, diretor de segurança para Bicicletas em Nevada, 25% dos acidentes com ciclistas nos EUA resultam de ciclistas pedalando na contramão5.

3Não há tempo de reação: Mais de 50% dos atropelamentos poderiam ser evitados com um comportamento mais defensivo do ciclista2 (algumas fontes citam 90%4) e em menos de 1% dos casos o ciclista sofre uma colisão traseira2. Na contramão, você tem a sensação psicológica de que está mantendo a situação sob controle, quando na verdade não está. Se você vê um carro desgovernado vindo na sua direção, não dá tempo de desviar, principalmente porque suas velocidades estarão potencializadas: a velocidade com a qual o carro se aproxima de você é a sua somada à dele. Um carro a 60 km/h com você a 20 km/h estará se aproximando de você a uma velocidade relativa de 80 km/h. Se vocês estivessem na mesma direção, ele chegaria a você com metade dessa velocidade, 40 km/h. Com o bom uso de um espelho retrovisor e de seus ouvidos, você tem o dobro do tempo de reação. O motorista também terá esse tempo e é mais importante ele desviar de você do que você dele, porque quem conduz o carro é quem realmente pode evitar o atropelamento. Você não consegue jogar sua bicicleta cinco metros para o lado em um segundo, mas o motorista pode fazer isso com seu carro se houver tempo suficiente.

4É mais difícil evitar o atropelamento: Andar na contramão é chegar nos carros mais depressa3. Trafegando em direções opostas, tanto você como o motorista precisam parar totalmente para evitar uma colisão frontal. Trafegando no mesmo sentido, o motorista precisa apenas diminuir a velocidade para abaixo da sua para evitar o atropelamento, tendo ainda muito mais tempo para reagir1 e uma margem bem maior.

5Em caso de atropelamento, os danos ao seu corpo serão bem maiores: Pelo mesmo motivo do item anterior (soma de velocidades), se você bater de frente com um carro vai sofrer muito mais. E ainda há um agravante: a inércia. Se você está indo no mesmo sentido do carro, ele vai pegar primeiro sua roda traseira e você sairá voando por cima do guidão, devido à inércia (com a roda de trás da bicicleta agarrada pelo carro, você continuará seu movimento anterior) ou devido à transmissão de energia cinética (o carro colide com a bicicleta e transfere parte de seu movimento para ela e consequentemente para seu corpo, impulsionando ambos adiante, com a bicicleta começando a parar uma fração de segundo depois porque a roda de trás não gira mais e seu corpo saindo para a frente com o movimento transferido). Melhor voar por cima da bicicleta em direção ao asfalto livre e estacionário do que se chocar com um para-brisa ou capô, que além de estarem a um metro de você no momento da colisão ainda vêm em sua direção com velocidade e força de impacto.

6Você surpreende os carros: Como você chega mais rápido nos carros, você os pega de surpresa. Principalmente em curvas à direita: o motorista está fazendo a curva quando de repente aparece você vindo na direção dele. Não há tempo de reação. Ele não consegue frear, não pode ir para a esquerda porque há outros carros, na direita tem um carro parado ou a calçada. Você também não pode se jogar para a calçada se há carros parados e, mesmo que não haja, não dá tempo nem de pensar nisso. Se vocês estivessem no mesmo sentido, o motorista teria bem mais tempo para reagir, talvez até o dobro, e poderia apenas diminuir a velocidade para evitar a colisão. Um carro não estanca imediatamente, mesmo que o motorista queira, se esforce e tenha um freio ABS com pneus bons.

7Os motoristas não te vêem nos cruzamentos: 95% dos acidentes com bicicletas acontecem em cruzamentos2. E falando especificamente de pedalar na contramão, é fácil entender o motivo: quando um carro vira num cruzamento, o motorista olha apenas para o lado do qual os carros vêm. Imagine um carro entrando numa avenida: o condutor olha para a esquerda; se não vem carro, ele entra. Nisso você está chegando com sua bicicleta na contramão e ele te pega de frente1. Não tem buzininha, grito, agilidade ou terço pendurado no guidão que resolva isso.

8Os motoristas não te vêem ao sair das vagas e garagens: Ao sair de uma vaga em que está estacionado, o motorista olha para trás, seja pelos espelhos ou pela janela, para ver se há veículos vindo. O mesmo ocorre quando ele sai de uma garagem de prédio ou de um estacionamento. Ele não olha para a frente, afinal não vêm carros daquela direção. Você, vindo na direção do carro, nem sempre verá que o motorista vai sair da vaga e, quando vir, talvez não adiante mais frear. Ao sair, ele vai te pegar de frente, mesmo que você consiga parar totalmente a bicicleta a tempo.

9Os motoristas não te vêem ao abrir as portas dos carros: Se muitos já não olham pelo espelho para abrir a porta do carro e ainda culpam o ciclista por isso, imagine se vão olhar para a frente para ver se vem vindo uma bicicleta. A chance de levar uma portada é muito maior.

10Os pedestres não te vêem: Quando um pedestre vai atravessar a rua, ele olha para o lado do qual os carros vêm. Preste atenção no seu próprio comportamento na próxima vez que for atravessar uma avenida a pé e perceberá como isso é verdade. Por isso, pode acontecer de alguém cruzar a rua do nada na frente da sua bicicleta, saindo do meio dos carros, de costas para você. E não vai dar tempo para fazer nada.

11Se quer ser tratado como veículo, porte-se como um: Se você se comporta como um veículo, sinalizando suas intenções, respeitando mãos de direção, sinais de tráfego, faixas de pedestre e etc., os motoristas o respeitarão mais. “Se aquele cara se preocupa com tudo isso, não é um mané qualquer que está aqui só atrapalhando”. Se, por outro lado, você anda na contramão, você os incomoda. Sim, isso irrita muitos motoristas, que ficam com a sensação de que você está adotando uma atitude de confrontamento, de negação de regras, de desrespeito. Passar em todos os sinais e outras pequenas infrações também os irritam, geralmente pela sensação de injustiça (“poxa, aquilo é proibido mas só porque ele tá de bicicleta ele pode fazer e eu não?”). Seja um modelo a ser espelhado e não um alvo da raiva e frustração alheias.

Você deve *ser* a própria mudança que deseja ver no mundo – Mahatma Gandhi

Fontes

1 Bicycling Street Smarts: Where to Ride on the Road

2 Escola de bicicleta: pedalar no trânsito

3 Guia Bike na Rua (por Cleber Anderson)

4 Traffic safety solutions in the works – Las Vegas Sun, 04/Jun/2004

5 Bicyclesafe.com – How to Not Get Hit by Cars

O que diz a lei

O Código Brasileiro de Trânsito é claro: bicicletas devem circular na via, no mesmo sentido dos carros e com preferência sobre eles. E não é à toa, é uma questão de segurança viária.

Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

134 comentários em “11 motivos para não pedalar na contramão

  1. Se um ciclista tem como destino sua casa, o seu local de trabalho ou qualquer outro, com duas ou mais opções de percurso ou trajeto, contendo sentidos variáveis ou não, ao longo dos mesmos, qual seria a preferência do ciclista (veículo de propulsão humana): trafegar pelo trajeto maior ou menor?

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    1. Oi, Rody! Vai depender de algumas variáveis, como altimetria e segurança viária, mas no geral não recomendamos o uso da contramão. Nesse vídeo da série Pedalando Todo Dia a gente explica como traçar uma rota segura e agradável, levando em conta esses e outros aspectos, dá uma olhada: https://youtu.be/WafoTyvrBFI

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  2. Mas as ciclovias de mão dupla já são perigosas por todos esses motivos…pedestres ignoram,carros nos cruzamentos só olham para o sentido da via

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  3. Vejam que o código de trânsito não trata das vias rurais de pista simples:
    “ART. 58.: Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla…”
    Que é onde costumo andar. Acostamento não asfaltado. Todos pedalam na lateral do pavimento. Se vc estiver na mão correta e algum motorista se distrair, vc praticamente não tem chance de escapar. Na contramão tenho alguma chance.

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  5. Parabéns a quem escreveu o artigo…bem completo e com bastante informação. Mas, ainda assim, eu quando pedalo acabo dando preferência por ir pela contra-mão por me dar uma sensação de segurança maior pela questão de ver todos os veículos que se aproximam com antecedência. Recentemente dando umas pedalas indo pelo sentido correto da via fui surpreendido por dois idiotas que estavam disputando quem era mais idiota ao meu ver e o tempo de reação foi muito pequeno pois os carros vinham por trás e só os percebi quando estavam próximos. Nesse caso, quando ouvimos algum barulho mais alto nossa reação é de olhar para o retrovisor ou até olhar para trás para se certificar que não estão na sua direção e nisso se perde o controle da bicicleta. Mas concordo com o tudo o que foi exposto no artigo, ainda assim acredito que continuarei, em via urbana, seguindo pela “contra-mão” pois me transmite muito mais tranquilidade para pedalar.

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  6. Concordo que não devemos pedalar na contra-mão, mas existe um caso que eu acho mais seguro:
    Rodovias com faixa duplas para ultrapassagem, sem acostamento na direita e com acostamento na esquerda. Como existe grande trafego de caminhões que fazem ultrapassagem entre si nestes locais e a bike é muito lenta por ser subida, o caminhão da direita sem espaço acaba passando muito perto do ciclista. Sendo que na esquerda existe um bom acostamento e não vejo risco nenhum em pedalar por ali já que a velocidade do ciclista não é muito maior que um pedestre. Quando abrir o acostamento na direita trocar de acostamento, mas só quando tiver segurança. A lei não é bem clara pois ela diz que devemos pedalar na borda da estrada no mesmo sentido do fluxo, quando não houver acostamento ou ciclovia, mas no caso existe acostamento somente na esquerda.

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    1. Paulo, a recomendação é para vias urbanas. Em acostamento, não existe “mão correta”, principalmente porque isso obrigaria o ciclista, em muitos casos, a pedalar dezenas de quilômetros a mais para encontrar um retorno. O acostamento é mais assemelhado a uma calçada do que a uma pista de circulação. Mas recomendamos cuidado ao trocar de lado da rodovia para buscar o acostamento do outro lado, essa travessia também traz riscos e deve ser feita em pontos com boa visibilidade, tanto para o ciclista quanto para o motorista.

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  7. Só pedalo na contra mão quando a alternativa é dar uma volta muito grande, mas quando o faço sempre dou preferência a quem vem na mão certa e presto bastante atenção na reação de motoristas e pedestres.

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    1. A grande bronca pra mim de pedalar na contramão, são com os ciclistas que pedalam no sentido correto. Para evitar uma colisão com outra bike eles são praticamente forçados a pegarem a direita correndo maior risco de colisão com veiculos.

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  8. Estou recomeçando a andar agora. Escolhi as ruas do meu bairro aqui no Tatuapé, em São Paulo. Todas as ruas tem estacionamento dos dois lados, além de serem muito estreitas e com trânsito de mão única em duas pistas apertadas, para os carros. Andar na calçada é praticamente obrigatório. Só tomar cuidado e andar devagar. Ainda estou com muito receio de andar em ruas movimentadas, embora sejam raras as ruas calmas por aqui. Infelizmente, acho que vou ter que me mudar. Já havia parado porque andar de bike só me estressava. Agora acho melhor me mudar mesmo.

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  9. Aqui em Lorena/SP, as bicicletas na contramão transformam o trânsito num verdadeiro inferno. Não são todos os ciclistas, é óbvio, mas a maioria não respeita…

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  10. Pedalei diariamente nas ruas entre 1991 e 1996 e depois de 2002 a 2006. Sempre andei na mão em vias calmas e na calçada em vias mais movimentadas sem ciclofaixa. A bicicleta é mais próxima dos pedestres em velocidade e em vulnerabilidade. Basta pedalar com cuidado e mais próximo da rua que você não atropela ninguém.

    É um absurdo completo querer misturar um veículo não motorizado na pista com outros veículos motorizados.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 16 Thumb down 13

  11. Bom dia,

    Desde janeiro deste ano (2016), utilizo da bike para o meu transporte, principalmente para o trabalho, de segunda a sexta feira, nos mais diversos horários, desde as oito horas da manha à meia noite. Meu carro me espera na garagem para os finais de semana.
    Acho o site, muito válido pois acima de tudo, o que nos dá confiança para enfrentar o transito com nossas magrelas, é a troca de experiencias, a procura de quem viva situações semelhantes às nossas.
    Quanto ao lance da mão contrária, me utilizo desta muito em função do relevo da minha cidade. seja para não ter de subir morros para estar sempre na mão do carro, seja para tomar um caminho menos íngreme.
    Sabido dos riscos, me comporto com total atenção, aos carros saindo das garagens e vagas, aos pedestres. vou muito devagar, e a contramão não passa de dois quarteirões, são vias que permitem a pedalada segura e é a ÚNICA maneira possível de fazer o trajeto para o trabalho de bike.
    Portanto, com educação, respeito e bom senso, as ruas podem ser compartilhadas de maneiras mais variadas do que aquelas impostas pelas regras, que nem sempre nos citam.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 10 Thumb down 7

  12. Caros cicloativistas, por favor, usem o termo “colisão” para descrever uma colisão entre bicicleta e veículo automotor ou motocicleta. Colisão é o termo correto pois bicicleta com ciclista é um veículo, e um incidente entre dois veículos é uma colisão. Atropelamento é o termo normalmente usado pela mídia, mas isso deve ser reservado quanto envolve pedestre ou animal e veículo automotor, motocicleta e bicicleta. Sim, um ciclista em uma bicicleta que atinge um pedestre ou animal causa o atropelamento do pedestre ou animal. Por favor, para concordância com o Código Brasileiro de Trânsito, altere o post conforme sugerido.

    Refs.:
    “Teoricamente, ciclista montado não pode ser atropelado e sim sofrer colisão. Atropelamento é choque entre veículo e pedestre ou animal e colisão é choque entre veículos. Portanto será atropelamento se o ciclista estiver desembarcado, e colisão se estiver embarcado.
    Ciclista não pode ser atropelado, mas pode atropelar. Caso esse atropelamento venha a causar vítima (morte ou lesão) o ciclista poderá responder pelos Arts. 121 ou 129 do Código Penal e não do Código de Trânsito. ”

    http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/direitos-e-deveres-a-bicicleta-e-a-legislacao-de-transito/

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    1. Cloter, colisão dá a falsa impressão de equivalência, por isso evitamos. Fica parecendo que dois veículos esbarraram, cada um paga seu prejuízo e vida que segue. Não podemos deixar que isso pareça ser algo comum e de pouca importância.

      Há outros motivos para preferirmos o termo atropelamento:

      • um choque entre bicicleta e carro raramente é causado pelo ciclista, tampouco pode ser evitado pela ação deste
      • o resultado é equivalente ao impacto de um carro em um pedestre
      • o veículo maior e mais pesado invariavelmente arremessa o ciclista ou, pior, passa por cima dele, situações que se assemelham muito mais a um atropelamento do que a uma colisão

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